Terça-feira, 25 de Março de 2025
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“A Mel foi a nossa salvação”

Em 2023, o abandono animal aumentou cerca de 10%. Ainda assim, nem tudo é mau, porque a adoção tem vindo a crescer. Em Lamego, conhecemos a história de Mel, uma cadela adotada em outubro de 2024 e que “foi a salvação” da nova família

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É na Serra das Meadas, em pleno Parque Biológico de Lamego, que está instalado o canil municipal, ou abrigo, como agora é denominado. Do lado de fora, poucos imaginam a quantidade de animais que ali está, mas são mais de 100 os cães ali albergados. A maioria vivia, até há pouco tempo, nas ruas do concelho. A esperança, agora, é encontrarem uma família que os leve para casa.

Mel é um desses casos. Viveu no abrigo até outubro do ano passado e ganhou uma família, depois de conquistar o coração de Cecília Oliveira, que chegou ao canil pronta para levar uma das filhas de Mel para casa. Contudo, “apaixonei-me por ela e não podia deixá-la aqui”.

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“Viemos com a ideia de levar um pequenino, até porque já tive outros dois cães adotados em bebé. Mas cheguei aqui e não resisti à Mel”, conta, confessando que “ela é tal e qual o nome, é um doce”.

O ano de 2024 foi “muito complicado para mim”, refere Cecília, revelando que a Mel foi “a nossa salvação”.

“O nosso cão morreu a 30 de outubro e no dia seguinte estávamos no canil, para levar outro”, recorda, confessando que “foi a Mel que nos escolheu”. Segundo Cecília, “a funcionária disse-nos que, antes de nós, esteve cá um casal, de quem a Mel se escondeu. Connosco foi ao contrário, ela veio ao nosso encontro. Foi amor à primeira vista e não me arrependo nada da minha decisão”.

E apesar de ser uma cadela considerada adulta, a verdade é que “ela adaptou-se muito bem, melhor até que os cães que já tive. É muito limpinha em casa e é a nossa companhia, sobretudo para mim, que não posso trabalhar”. “Quando a vim buscar ao canil, dias depois, porque foi preciso tratar das vacinas e assim, a Mel parecia que nos conhecia há uma vida”, acrescenta.

“Viemos com a ideia de levar um pequenino, mas não resistimos à Mel. Não me arrependo”
CECÍLIA OLIVEIRA
Tutora da Mel

Mel é o terceiro cão na vida de Cecília. “O primeiro esteve connosco 15 anos e o segundo, devido a uma doença, esteve connosco dois anos. Já não imagino a minha vida sem cães e se não vivesse num apartamento tinha mais dois ou três”.

“Sempre tive cães adotados, não ligo a isso das raças e não concordo com a venda de cães. Há muitos nos canis à espera de uma família”, afirma Cecília, deixando o desafio para a adoção, que, tal como acontece com crianças, “tem de ser responsável”.

“Adotem, mas de forma responsável”, vinca Cecília, reforçando que “a Mel é a nossa luz”.

TRABALHAR NO CANIL

Sara Silva trabalha no canil de Lamego há cerca de dois anos. Sempre gostou de animais e diz que isso é o segredo para quem trabalha num sítio como este. “Sempre convivi com animais, desde pequena. Tanto gatos, como cães. Eu até dizia, quando andava na escola, que os animais eram os meus irmãos”.

Ver que uma família chega para dar um novo lar a um animal do abrigo “é gratificante”, porque “não queremos que os animais morram aqui, sem que uma família lhes dê amor. Queremos que eles encontrem alguém que os trate bem”, conta.

Foi o que aconteceu com a Mel, que no dia da reportagem, lhe deu muitas lambidelas. Prova de que, apesar de ter estado num canil, não faltou amor a esta cadela.

MAIS ADOÇÕES

O caso de Mel é um caso de sucesso, tendo em conta que, de acordo com dados da União Zoófila, um em cada três animais adotados são devolvidos. E olhando para o primeiro Censo Nacional dos Animais Errantes, realizado em 2023, cerca de 930 mil animais vivem nas ruas de Portugal, entre cães e gatos, sendo que foram recolhidos pelos centros de recolha oficiais mais de 45 mil. 

“Não queremos que os animais morram aqui, mas sim que encontrem uma família que lhes dê amor”
SARA SILVA
Funcionária do Canil

Os números são preocupantes, mas nem tudo é mau porque há cada vez mais gente a adotar. Em 2019 foram adotados, em Portugal, 18.187 animais, número que cresceu para 30.424, em 2023.

No caso de Lamego, o canil recolheu, no ano passado, 417 animais das ruas do concelho e registou 349 adoções, não só de cães, mas também de gatos. Foram os melhores resultados de sempre, “mas, infelizmente, o abandono continua a existir”.
Para Hélder Santos, médico veterinário municipal, isso é “frustrante” porque “vemos, quase diariamente, animais a serem abandonados”. Nestes casos, o canil tenta “atuar rapidamente, para que não se formem matilhas ou colónias e temos noção que o trabalho está a dar frutos. Isso dá-nos força para continuar”, frisa o responsável, destacando, também, o número de esterilizações realizadas (344).

 

Haver mais abandono é sinónimo de “casa lotada” no canil, onde estão, atualmente, cerca de 120 cães, entre os quais uma matilha de 56 cães que vagueavam na zona do Torrão. A pensar nisso, a autarquia realizou, recentemente, obras de ampliação no canil, que permitiram aumentar a capacidade do espaço.

 Os animais que ali vão parar são identificados pelo próprio canil ou pelas pessoas que vão passando na rua, mas “apanhá-los” nem sempre é fácil. “Fomo-nos aperfeiçoando e hoje temos um equipamento muito eficaz na captura de cães que consiste numa jaula com sistema de videovigilância e que tira fotos de forma instantânea. O animal é atraído com recurso a comida e conseguimos fechar a porta da jaula remotamente, através do telemóvel”, explica Hélder Santos, admitindo que “se assim não fosse, dificilmente teríamos conseguido recolher a matilha do Torrão”.

De acordo com o responsável, graças a este equipamento, “conseguimos recolher toda a matilha em cerca de mês e meio”.

Chegados ao canil, “são colocados microchips nos animais. Depois, logo que possível, é feita a esterilização, que pode ser feita aqui no abrigo ou em duas clínicas da cidade com quem temos protocolo. Seguem-se tratamentos antiparasitários e a aplicação de vacinas”, explica o médico veterinário.

É com todos os tratamentos que os animais saem daqui, quando adotados. “Nós vamos publicando nas redes sociais os animais que temos disponíveis. As pessoas vêm cá e levam o animal com tudo em dia, não vão, logo no imediato, ter grandes despesas”, refere Hélder Santos, realçando que “não aceitamos devoluções, as pessoas têm que perceber que adotar um animal implica ter responsabilidade”. E apesar de não ser uma prática frequente, o responsável admite que “tentamos perceber se as pessoas têm condições para ter um animal, de forma a evitar que voltem para a rua”.

“Não aceitamos devoluções. As pessoas têm que perceber que adotar um animal implica responsabilidade”
HÉLDER SANTOS
MÉDICO VETERINÁRIO

Voltando ao caso da Mel, Hélder Santos confessa que “é raro as pessoas quererem adotar animais já em fase adulta, preferem cachorros. A Mel é um excelente exemplo de como um cão adulto pode ser adotado e adaptar-se bem à nova família”.

ABANDONO É CRIME

O abandono de um animal de companhia é, desde 2014, um crime previsto e punido pelo Código Penal português.

De acordo com a lei, quem abandonar um animal de companhia, pondo em perigo a sua alimentação, os cuidados que lhe são devidos ou até a sua vida, pode ser punido com uma pena de prisão até oito meses. Mas não fica por aqui. Quem abandonar um animal pode ainda estar sujeito a outras penas, como ficar impedido de ter outros animais de companhia pelo período máximo de seis anos. 

Para além de crime, o abandono de um animal de companhia é também considerado como uma contraordenação muito grave, estando prevista uma coima que pode ir dos dois mil aos 7.500 euros.

E tal como acontece com a violência doméstica, o abandono de animais de companhia é um crime público, o que permite que qualquer pessoa que assista ou tenha conhecimento de uma situação de abandono de um animal pode denunciar o caso. Para tal, deve contactada a PSP ou a GNR.

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