É uma forte machadada, no cooperativismo duriense.
A Adega Cooperativa de Sanfins do Douro não resistiu aos problemas financeiros e, agora, uma dívida por saldar, ao Banco Santander/Totta, faz com que a agremiação de lavradores esteja à venda. É a primeira vez que, na Região Demarcada do Douro, tal situação envolve uma instituição de vitivinicultores.
Prédio urbano, linhas de engarrafamento, cubas em inox e cimento, balões, esmagadores, tonéis, garrafões, tegões, equipamentos auto-vinificantes, tudo está em venda. Ao que apurámos, quem quiser ficar com a Adega Cooperativa de Sanfins do Douro terá de desembolsar um valor de cerca de um milhão de euros.
Situada na Avenida Manuel António Magalhães, as instalações têm sido utilizadas, nas últimas vindimas, por alguns produtores durienses de vinho, em especial na produção de moscatel.
“As adegas investiram na modernização dos seus equipamentos, quando os preços dos vinhos de mesa ainda estavam em alta. Depois, deu-se uma queda brusca nos valores (de 160 euros a pipa passou para 100!), reduções drásticas de receitas e o que aconteceu à Adega de Sanfins pode suceder a outras, se não estivermos atentos”. Porém, José Manuel Santos, presidente da UNIDOURO, está ciente de que a situação pode ser ultrapassada.
“Algumas Adegas podem ajudar a minorar a situação financeira da Cooperativa, através da compra de stocks de moscatel e de outros vinhos de mesa e o cooperativismo duriense deve dar uma imagem de solidariedade. Por outro lado, convém não esquecer que existe o processo de constituição de uma sociedade de quatro adegas do concelho de Alijó (Sanfins, Favaios, Peagrinhos e Alijó), o que poderá ser benéfico, para a instituição. Estou certo de que vai haver movimentações, para salvar a Adega de Sanfins”. Segundo o dirigente, “este caso deve merecer especial atenção de outros organismos, nomeadamente do Instituto dos Vinhos do Douro e Porto, IVDP, Casa do Douro e Governo”.
A receita de José Manuel Santos, para evitar casos como o da Adega de Sanfins do Douro, passa por uma “gestão profissionalizada e uma reorganização do sector cooperativo”.
Joaquim Veríssimo foi Presidente desta Adega Cooperativa, durante muitos anos. Ele contou que uma das causas da insolvência da agremiação “teve a ver com uma dívida de 600 mil contos que as Caves Ribatua, da qual fazia parte a Adega de Sanfins, teve de dividir, com as suas associadas e a baixa de preços do sector e o consequente abandono dos associados produtores de Vinho do Porto e Moscatel”.
Os associados, da Adega de Sanfins são cerca de trezentos. Muitos deles têm saído, paulatinamente, procurando noutras adegas vizinhas, nomeadamente na de Sabrosa, o escoamento para os seus vinhos. Em relação aos seus funcionários, oito, desde há alguns meses que já estão “no fundo do desemprego”.
Ao que soubemos, a dívida deve rondar os três milhões de euros.
Fundada a 30 de Julho de 1958, teve esta Adega importância vital para o desenvolvimento económico de Sanfins do Douro. Os seus excelentes vinhos eram provenientes das melhores castas do mundo e tornaram-na como um expoente de qualidade. Foi considerada como uma das melhores adegas cooperativas do Douro, com produção de vinhos de mesa, cerca de 3.000.000 litros, e de vinhos tratados ou Portos, na ordem dos 1.400.000 litros. Os seus vinhos Fernão Sanches (tinto) obteve o Grande Diploma de Honra com Medalha de Ouro no Concurso Vino Ljubljana; e o Alvéloa (branco) teve uma Menção Honrosa, no mesmo concurso. A própria vila de Sanfins do Douro é conhecida, ainda, como a “Pérola do Moscatel”.
José Manuel Cardoso