O primeiro caso foi confirmado no final do mês de março na esquadra de Mirandela. Um polícia, de 58 anos, que presta serviço na cidade do Tua, mas que reside em Bragança. Dias mais tarde, foram confirmados dois novos casos positivos em agentes da mesma esquadra, um de 43 e outro de 52 anos.
O quarto caso de covid-19 surgiu também na PSP de Mirandela. O polícia, de 44 anos, já estava em casa, por precaução, assim como outros agentes que estiveram em contacto com os polícias infetados.
O caso mais recente foi registado na esquadra de Vila Real, na sexta-feira. Trata-se de um polícia, com 45 anos, que está, entretanto, em isolamento e a ser acompanhado.
FALTA DE TESTES
As forças de segurança, tal como os profissionais de saúde e bombeiros, estão na linha da frente de combate ao novo coronavírus. O aparecimento de casos positivos no seio das esquadras está a provocar algum desconforto, até porque há falta de testes, uma situação “incompreensível”, na opinião de Carlos Torres, presidente do Sindicato Independente dos Agentes de Polícia (SIAP).
Em declarações à VTM, o líder sindical explicou que “o Governo diz que os polícias têm prioridade em fazer os testes da covid-19, quando na verdade isso não acontece”.
Carlos Torres, que também é polícia em Vila Real, diz ser “inaceitável” a falta de rastreio, principalmente “quando há agentes que contactaram com alguém que acusou positivo”.
Estas preocupações são também as de Paulo Pereira, da Associação Sindical dos Profissionais da Polícia (ASPP/PSP). “É uma situação preocupante, tendo em conta que os colegas que contactaram com o agente infetado continuam a trabalhar e ainda não fizeram os exames de despistagem”.
“Em Vila Real, o comando da PSP é envelhecido, com falta de efetivos, e esse problema está identificado há muito tempo, mas o Governo parece que se tem esquecido de nós”, conta, lembrando que “estamos na linha da frente e, em caso de surgirem mais casos, não sabemos quem irá assegurar o trabalho, porque não se fazem polícias à pressão”.
Estas duas frentes sindicais reuniram, na segunda-feira, com o Ministério da Administração Interna (MAI). A obrigatoriedade de testes de despistagem da covid-19 para os agentes da PSP e a forma como os turnos estão a ser feitos, foram alguns dos temas em cima da mesa.
MINISTÉRIO GARANTE MAIS TESTES
No final da reunião com o MAI, Carlos Torres confessou, à VTM, não ter saído da mesma “totalmente satisfeito”.
“O secretário de Estado da Administração Interna admitiu que é realmente um problema a existência de muitos polícias inativos, por motivos de infeção por coronavírus ou por estarem em isolamento profilático. Em Vila Real, por exemplo, estão entre 10 a 15 polícias em isolamento”.
O difícil acesso aos testes de despistagem e o facto de muitos não apresentarem sintomas levou Carlos Torres a questionar a tutela sobre possíveis soluções.
“O que nos foi dito é que o Governo vai avançar com testes que permitem ver quem é imune ao vírus, de forma a que esses agentes sejam enviados para a linha da frente e todos os outros fiquem na retaguarda, mais protegidos”, explicou.
A questão dos turnos esteve também em cima da mesa, isto porque se fala de turnos em espelho, “o que é mentira”. “Os turnos são os mesmos que eram antes da pandemia, não há alterações, o que nos deixa apreensivos”, conta Carlos Torres, acrescentando que “algo tem de ser feito, porque as esquadras começam a fechar e qualquer dia não há polícias para garantir a segurança da população”.
Questionado pela VTM sobre os agentes da PSP de Vila Real, que tiveram contacto com o polícia infetado, que continuaram a trabalhar sem terem recebido ordem para realizar os testes de despistagem, o líder sindical revelou que “já estão de quarentena e realizaram testes no sábado”. Os resultados deverão estar disponíveis a partir de hoje, sendo que “dos 15 agentes que estão em isolamento, quatro já apresentam sintomas”.
“A garantia que nos foi dada é que os testes aos elementos das forças de segurança vão ser feitos com mais rapidez e também os resultados vão ser conhecidos mais cedo” para evitar a propagação do vírus, rematou Carlos Torres.
Em todo o país existem “100 agentes infetados” pelo novo coronavírus “e cerca de 600 em isolamento”, concluiu.
Comando Distrital da PSP de Bragança
Ana Maria Rodrigues, subintendente da PSP de Bragança, disse à VTM que “os quatro polícias infetados estão em confinamento obrigatório. O prazo do isolamento está quase a terminar e, depois de realizarem novos testes, poderão voltar ao serviço”.
Relativamente aos agentes que foram enviados para isolamento profilático “deram negativo no teste e, neste momento, estão todos a trabalhar”.
Ao contrário do que aconteceu com os elementos da PSP de Vila Real, os agentes de Bragança, que foram submetidos ao teste, “foram todos atendidos sem constrangimentos”.