Sexta-feira, 26 de Julho de 2024
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Almoço de Pascoela temperado com solidariedade

A Quinta da Avessada, em Favaios, ofereceu o almoço de Pascoela a 60 pessoas com necessidades especiais. Iniciativa surgiu depois de as arcas ficarem cheias devido à falta de turistas.

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Eram dez da manhã quando a azáfama invadiu a cozinha da Quinta da Avessada, em pleno coração do Douro. Seria um domingo como tantos outros, não fosse a pandemia de Covid-19 afastar os turistas. 

Com as arcas cheias de alimentos e as salas vazias, o proprietário desta quinta decidiu que a melhor solução seria oferecer um almoço diferente aos utentes dos lares de Alijó e Sabrosa da Associação Portuguesa de Pais e Amigos do Cidadão Deficiente Mental (APPACDM).

“Hoje é um grande dia. Depois de um mês em casa, conseguimos reunir a equipa para fazer algo importante para nós que é dar um miminho aos nossos vizinhos”, explicou Luís Barros, proprietário da Quinta da Avessada, acrescentando que “tínhamos adquirido os produtos para receber os turistas, mas não há turistas. Em vez de deixarmos que os alimentos se estragassem, decidimos pôr mãos à obra”.

A escolha do dia para oferecer este almoço não foi feita ao acaso. “Estamos no meio rural onde, na Pascoela, é tradição estar com a família. Com a pandemia, os utentes da APPACDM não podem estar com os seus familiares e acredito que para eles seja difícil perceber o que se está a passar. Pelo menos o almoço vai ser como estavam habituados”, esclareceu Luís Barros.

MENU COM PRODUTOS REGIONAIS

Rui Pereira é um dos fornecedores da Quinta da Avessada. Numa semana normal “forneço 300 a 350 quilos de carne”, agora “estou com uma quebra de faturação na ordem dos 70 por cento”. Também ele abraçou esta iniciativa “e ajudei no que foi preciso”. Quanto ao futuro, garante, “não vai ser fácil”.

Das entradas às sobremesas, não faltou nada neste almoço de Pascoela, que teve um menu recheado de produtos da região, preparado pelo Chef João Requeijo.

“Para entradas temos crocante de alheira e bola de carne. A sopa é um creme de cenoura e como pratos principais temos cabrito assado, lombo de porco assado e vitela estufada, acompanhados de arroz e batata confecionados em forno a lenha. Para terminar, temos pudim caseiro, pudim Abade de Priscos, leite creme e semifrio de morangos”.

DA CONFEÇÃO À ENTREGA

Durante cerca de três horas, a equipa não parou e eis que o banquete seguiu viagem até Alijó e Sabrosa. “Acredito que os utentes da APPACDM vão disfrutar deste almoço com alegria. Foi tudo feito com muito carinho e para mim é um orgulho fazer parte desta iniciativa. Parte de mim vai nesta comida”, confessou João Requeijo.

A VTM acompanhou a equipa da Quinta da Avessada até Alijó, para entregar o almoço a uma das valências da APPACDM, numa viagem que demorou cerca de dez minutos.

Sónia Silva, diretora técnica da instituição, aguardava a chegava desta refeição, que teve como tempero especial a solidariedade.

“É importante que as associações e quintas do concelho nos ajudem e que os nossos utentes, que nem sempre são vistos da melhor forma, conheçam as pessoas”, explicou a diretora, acrescentando que “70 por cento dos nossos utentes não têm noção do que se está a passar”.

“O Douro vai vencer”

Este era o ano de viragem na Quinta da Avessada, que em 2019 recebeu cerca de 80 mil visitantes. As reservas para 2020 faziam prever “um ano excecional”, mas quis a pandemia de covid-19 que tal não acontecesse.

“Íamos ter um ano excecional, estávamos a superar os dez mil visitantes por mês, algo fantástico, pelo que tínhamos as nossas arcas frigorificas e dispensas cheias para o arranque de mais um ano e, de repente, cai esta bomba”, confessou Luís Barros.

Com 42 funcionários em casa e com a empresa em lay-off, avizinham-se tempos difíceis para esta quinta. Ainda assim, o proprietário acredita que “se conseguirmos trabalhar de junho a novembro vamos conseguir amealhar algum capital para conseguir manter toda a equipa durante o inverno”, ainda que “não seja possível recuperar o investimento feito”.

Luís Barros recua ao ano de 2007, um ano “muito mau para o turismo porque as pessoas não tinham dinheiro para viajar. Foi preciso namorar os turistas”. Agora, diz, “é preciso reconquistar a confiança e fazer ver aos turistas que, quando regressarem, terão todas as condições de higiene e segurança. Temos uma quinta para 300 pessoas e vamos receber apenas 150, por exemplo”.

Apaixonado pela região do Douro, Luís Barros mostra-se, além de reticente, confiante no futuro tendo em conta que “o Douro está sempre a ser posto à prova. É preciso lutar para conquistarmos algum lugarzinho na economia nacional e temos conseguido. 

Desta vez não será diferente”.




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