E Luís Vaz de Camões tem origens em Trás-os-Montes, mais concretamente em Vilar de Nantes, Chaves. Visto não haver certidão de nascimento do poeta, não é possível afirmar com 100% de certeza que terá nascido naquela localidade, nos arredores da atual cidade de Chaves, já que nem o ano de nascimento é, na realidade, conhecido, apesar de se pressupor que terá sido em 1524, mas o que é certo é que os avós de Luís Vaz de Camões ali moraram e que o pai e sete tios ali nasceram.
A hipótese começou a ser aventada há algumas décadas. José Calvão Borges escreveu sobre o tema nos anos 80 e também José Hermano de Saraiva falou das origens flavienses de Camões, havendo provas de que os avós se mudaram para Vilar de Nantes, onde nasceu o pai de Camões.
REGISTO
O historiador Luís Dias Carvalho considera que é uma pena não haver registo do nascimento do poeta. É que antes do Concílio de Trento (1561-1575) não havia obrigatoriedade de assentar os nascimentos e óbitos, pelo menos das classes mais baixas.
“Até aí, nós só sabemos quem é quem através dos livros nobiliárquicos de linhagem, só conhecemos os reis, os nobres e os seus familiares, o povo escapa-nos totalmente”, explica. Ora, não sendo Camões de origem nobre, não há registos oficiais. “Ele próprio lamenta a sua origem, nos seus sonetos”, refere.
Mas a família está ligada a Chaves e disso há registos. D. Afonso, oitavo duque de Bragança, filho ilegítimo de D. João I, enquanto alcaide de Chaves, pediu para ser criado um couto de homiziados como forma de combater o despovoamento, ou seja, perdoava-se castigos e penas leves a quem aceitasse fixar ali residência. Antão Vaz e Guiomar Vaz, avós paternos do poeta, vieram assim para Vilar de Nantes, pensa-se que vindos de Coimbra.
FAMÍLIA
“Isso está profundamente documentado”, afirma, já que ao casal foram concedidos privilégios ligados à igreja de Vilar de Nantes, como “a ração”, uma espécie de imposto. Esse casal teve oito filhos, um deles é Simão Vaz de Camões, pai do futuro poeta. Deste antepassado, tal como dos tios, há registos no arcebispado de Braga, que estudaram naquela cidade, onde obtiveram as ordens menores. “Eram gente culta”, explica Luís Carvalho, o que terá sido passado ao jovem Luís.
Simão Vaz de Camões casou com uma senhora de Santarém. “A grande reserva é se o casal ficou a morar em Vila de Nantes ou em Santarém”, ou mesmo noutro ponto do país e onde nasceu e passou a infância o autor d’Os Lusíadas. Mas o historiador acredita que “há indicadores de que, em algum momento, os pais e o próprio Luís Vaz de Camões terão vivido em Vilar de Nantes”. Um dos sinais é que há muitos familiares (tios, primos e seus descendentes) que se sabe terem vivido em Chaves. Além disso, Camões faz referência em poemas a Monterrei e Vale de Laça, localidades espanholas próximas de Chaves. Luís Dias Carvalho fala, ainda, de uma pintura a fresco que viu numa casa em Vilar de Nantes que tinha motivos marítimos. “Quem teve a ideia de mandar pintar a fresco esses motivos, numa zona a 200 quilómetros do mar?, questiona.
Só vejo uma ligação, ao poeta, que nos Lusíadas fez o canto aos feitos heróicos da expansão marítima portuguesa”, defende.
Para o historiador, Camões “tem raízes vincadamente flavienses, isso é indiscutível”.
Chaves reivindica mesmo ser o berço de Luís Vaz de Camões e para celebrar essa presença criou um Roteiro Camoniano, que dá a conhecer a casa dos avós, onde se pensa que terá nascido o poeta e outros locais que o terão acolhido.
E se não é possível provar que Camões nasceu em Vila de Nantes, também não se pode afirmar, com certeza absoluta, que o seu berço tenha sido noutra localidade.