Segunda-feira, 9 de Dezembro de 2024
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Agostinho Chaves
Agostinho Chaves
Trata o jornalismo por tu. Colabora com a VTM há mais de 25 anos. Foi Diretor entre 2014 e 2019. Passou por meios de comunicação nacionais, como o Comércio do Porto e a Rádio Renascença.

As peles e os ossos

Uma grande contradição acontece no mundo da moda e daquilo que se defende como obrigação humana face aos direitos dos animais: regouga-se contra o uso das peles no vestuário.

No entanto, segundo o Instituto Nacional de Estatística, a indústria de peles e curtumes cresceu mais de 50% na última década (precisamente aquela que mais manifestações contra o uso das peles teve).

Aliás, há muitas outras contradições na sociedade atual, marcada pelo aparecimento de contestações novas e de novas realidades nestes domínios. O “JN” de anteontem, só por si, publicou quatro notícias sobre cães: “Cão atingido com tiros de caçadeira sobrevive” (página 19); “Dois cães maltratados resgatados por equipa especializada da GNR” (página 20); “Dezassete cães drogados e largados em descampado” (página 28) e “Cão baleado no pescoço com dezenas de chumbos de caçadeira” (página 28).

Não se entende muito bem. Cada vez há mais animais mal tratados, apesar das campanhas dos que os defendem e da criminalização dos atos que atentem contra esses maus tratos. O mesmo acontece com os seres humanos. Nunca como agora se maltrataram e mataram tantos homens e mulheres como agora, deixando-nos a suspeita de que a inteligência natural começa a ser ultrapassada pela artificial. Parece que quantas mais defesas há, em teoria, em relação a grupos (ambiente, minorias, migrações, trabalho, igualdade de género, deficientes, animais, crianças, doentes, liberdade de reunião e de expressão física e mental, segurança) vai sendo e ficando pior o nosso desenvolvimento social.

Entretanto, foi marcada para o dia 10 de junho (curiosamente o feriado nacional que celebra o “Dia de Portugal e das Comunidades”) para que seja feita, em Espanha, a exumação dos restos mortais de Francisco Franco. Essa exumação tem sido caraterizada pela polémica. E não é crível que, após o 10 de junho, a situação fique resolvida em tranquilidade. Ao contrário do que costuma dizer-se (quase sempre consensualmente) o “caudilho” (melhor dizendo, os seus ossos) não tem direito ao “ eterno descanso”. Nem terá. Franco marcou de forma excessiva uma época da História mundial. Com muitas vítimas. E isso, pelos vistos, até depois da morte se paga caro.

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