Está dado o primeiro passo para a criação da primeira Denominação de Origem Protegida (DOP) para o azeite produzido na região do Douro. Na segunda-feira, em Tabuaço, estiveram reunidas várias entidades, desde autarquias, associações do setor, instituições de ensino até aos olivicultores, que pretendem “unir esforços” para a concretização deste objetivo.
No final da reunião, o presidente da câmara de Tabuaço, Carlos Carvalho, referiu que os participantes “consensualizaram a criação de uma comissão instaladora” que irá pensar no enquadramento legal da iniciativa, nas soluções técnicas e custos associados ao projeto. Dentro de um mês, voltam a reunir para concertar estratégias.
Todos concordam que a certificação do azeite do Douro será uma “mais-valia” para a comercialização de um produto que é de excelência, mas que lhe falta este selo de qualidade. “Será muito importante para criar valor acrescentado na marca, no produto e em quem o produz e poderá ajudar a incrementar as vendas do azeite duriense”, sustentou o autarca, adiantando que poderá abrir as portas a novos mercados, aumentando o volume de exportações, bem como os preços de venda. “Nunca teremos sucesso pelo fator quantidade, mas sim pela qualidade, exclusividade e autenticidade daquilo que temos de melhor. O vinho é uma prova, mas não é um caso isolado”, explicou Carlos Carvalho.
Há azeite em Trás-os-Montes que já tem o selo ‘DOP’, mas engloba apenas alguns concelhos durienses, Carrazeda de Ansiães, Murça, Vila Flor e Vila Nova de Foz Côa.
A ideia não é criar nenhum conflito, mas passa por conseguir dar valor a um produto com características únicas, de forma a reforçar a marca “Trás-os-Montes”. “Temos a matéria-prima e o potencial único, mas temos de ser exigentes com o processo produtivo para que amanhã possamos ter um produto de excelência. Mais do que alcançar esse patamar, queremos mudar a perceção do consumidor, que tem de entender que está perante um produto de grande qualidade, que esta certificação virá comprovar e será um passo importantíssimo”, frisa Carlos Carvalho.
Francisco Pavão, presidente da Associação dos Produtores em Proteção Integrada de Trás-os-Montes e Alto Douro (APPITAD), referiu que a DOP significará a valorização de um produto e de um território. “O consumidor saberá que está perante um produto genuíno de uma determinada região”.
O responsável salientou que as associações do setor, que já têm a DOP, estão abertas para que haja aqui uma divisão. “Nesta primeira fase do projeto, é preciso perceber quais são as áreas que poderão vir a ser incluídas nesta nova Indicação Geográfica ou DOP”.
O presidente do conselho de administração da Cooperativa de Olivicultores de Tabuaço, José Manuel Amaral, acredita que a DOP poderá vir ajudar a comercializar o azeite a melhores preços. “Logo à partida e num concelho como o nosso, essencialmente agrícola e em que as pessoas vivem essencialmente do vinho e do azeite, o facto de poderem vender o azeite a um preço superior será muito bom e poderá, sem dúvida, abrir mais portas à comercialização”.
Este responsável referiu que os custos de produção neste território como o Douro são muito elevados devido à morfologia dos terrenos, muito íngremes, que dificultam a mecanização da apanha. “È tudo feito manualmente, como sempre foi. Os custos de produção são elevadíssimos e se os preços não acompanharem podem-se verificar mais casos de olivais ao abandono, em virtude de esta não ser uma atividade rentável”, frisou, adiantando ainda a forte concorrência do azeite espanhol e do Norte de África. “Quando o azeite aparece na prateleira do supermercado, os consumidores veem o preço, não estou a olhar para a origem. Por isso, temos de valorizar o nosso produto, que é único e de ótima qualidade”.
Com cerca de 700 associados, a cooperativa de Tabuaço, sentiu uma quase acentuada na ordem dos 50 por cento, já que na campanha de 2015/2016 laborou 1,2 milhões de quilos de azeitona e este ano não chegou às 600 mil toneladas.
Em Trás-os-Montes, na campanha 2016/2017, que ainda não está fechada, estima-se quebras na ordem dos 60 por cento em concelhos do Baixo Corgo e Cima Corgo, inseridos na Região Demarcada do Douro. Em Trás-os-Montes estimam-se uma quebra na ordem dos 10 a 15 por cento.
Em média, a região de Trás-os-Montes e Alto Douro produz cerca de 13 mil toneladas de azeite por ano, o que equivale a 11 por cento do azeite nacional.
Depoimentos
Carlos Carvalho, Presidente da Câmara Municipal de Tabuaço
“Temos a matéria-prima e o potencial único, mas temos de ser exigentes com o processo produtivo para que amanhã possamos ter um produto de excelência”
Francisco Pavão, Presidente da APPITAD
“Nesta primeira fase do projeto, é preciso perceber quais são as áreas que poderão vir a ser incluídas nesta nova Indicação Geográfica ou DOP”
José Amaral, Cooperativa de Olivicultores de Tabuaço
“Os custos de produção são elevadíssimos e se os preços não acompanharem podem-se verificar mais casos de olivais ao abandono, em virtude de esta não ser uma atividade rentável”