Os alarmes soaram há um ano quando a Rússia invadiu a Ucrânia. De imediato a comunidade ucraniana que vive em Vila Real mobilizou-se para, à distância de quase 4.000 quilómetros, ajudar quem estava a lutar na terra natal.
A adesão da sociedade civil foi surpreendente e, em poucas semanas, partiram seis camiões carregados de bens de primeira necessidade: alimentos, roupas quentes, cobertores e medicamentos. A solidariedade de empresas, instituições e particulares ajudou a pagar o transporte rodoviário dos bens.
Ivanna Rohashko, uma das fundadoras da Associação de Ucranianos de Vila Real, contou à agência Lusa que o esforço se mantém para continuar a mandar bens para a Ucrânia, referindo que, em meados de janeiro, seguiu mais uma carrinha com doações de fraldas e comida de bebés, comida enlatada, casacos, calçado militar e cobertores.
“Atualmente tem sido muito difícil enviar as coisas para a Ucrânia porque os transportes gratuitos, digamos assim, já acabaram e são muito dispendiosos, muito”, afirmou esta ucraniana de 26 anos que chegou com a família a Vila Real há 13 anos.
Ivanna Rohashko referiu que, apesar das dificuldades, os bens vão sendo enviados com os recursos escassos da associação e a ajuda dos voluntários de Vila Real.
Neste momento, referiu, no armazém ainda é feito trabalho de triagem dos bens e há também doações que estão também ser distribuídas localmente, por famílias necessitadas, sejam ucranianas ou outras.
Mas, contou, a associação tem também a missão de ajudar na integração dos refugiados que vieram da Ucrânia, para reforçar o sentimento de segurança e ajudar a transpor a grande barreira da língua.
Algumas famílias ucranianas chegaram a Vila Real, outras espalharam-se pela região, pelos locais onde foi disponibilizado acolhimento (casa e emprego) e, um ano depois, há quem se esteja a integrar e quem tenha optado por regressar à Ucrânia.
“Não conseguiram ficar muito tempo porque deixaram para trás a família e não conseguiam ter uma vida pacífica aqui, com os familiares lá a continuaram a estar em perigo”, disse.
Há um ano, recordou, começaram por armazenar as doações em sua casa, mas o espaço foi ficando demasiado pequeno e foi preciso, com a ajuda da câmara, passar para um armazém em Vila Nova, onde ainda se mantêm, mas também foram ocupadas as instalações dos bombeiros da Cruz Branca, que se transformou um centro logístico de um onde partiram os camiões carregados.
“Tentámos fazer tudo o mais rápido possível, porque cada dia era contado, nós não podíamos esperar semanas, meses. Cada dia era importante”, salientou, recordando que, na terra natal, muitas famílias perderam “tudo” e também os militares precisavam de ajuda.
“A Ucrânia não estava preparada para uma guerra daquela dimensão e, por isso, a nossa preocupação e a nossa missão era ajudar”, referiu.
Foram dias intensos de trabalho, Ivanna Rohashko acabou por deixar os estudos na Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD) em segundo plano para se dedicar a este esforço de guerra e foi com outros voluntários, por duas vezes, à fronteira na Polónia.
Um ano depois há uma espécie de regresso à rotina, ao mestrado em gerontologia e ao trabalho, mas esta é uma “normalidade que dói” para quem está longe do país natal.
“Enquanto estamos aqui a falar, podem estar a morrer pessoas. O meu primo faleceu na guerra, porque um casal de idosos disse aos russos onde estavam e eles bombardearam a escola e eles estavam lá. É difícil e eu não quero que isso se torne uma rotina porque não é rotina”, frisou.
A Ucrânia, frisou, é um “país em guerra” e “está a defender a Europa toda”. “Não podemos esquecer que temos lá muita família que não está segura lá. Não quero que as pessoas normalizem esta guerra”, sublinhou.