O cardeal português D. José Tolentino Mendonça apresentou, no Vaticano, o apelo do Papa a todos os artistas, para que se unam à Igreja numa “revolução” da beleza, em favor dos mais frágeis.
“Queridos artistas, vejo em vós guardiães da beleza que sabe inclinar-se sobre as feridas do mundo, que sabe escutar o grito dos pobres, dos sofredores, dos feridos, dos presos, dos perseguidos, dos refugiados. Vejo em vós guardiães das bem-aventuranças”, refere a homilia que Francisco tinha preparado para esta celebração.
O texto foi lido por D. José Tolentino Mendonça, prefeito do Dicastério para a Cultura e Educação, na Basílica de São Pedro, que recebeu os participantes no Jubileu dos Artistas e do Mundo da Cultura.
“Vivemos num tempo em que se erguem novos muros, em que as diferenças se tornam um pretexto para a divisão em vez de serem uma oportunidade de enriquecimento recíproco. Mas vós, homens e mulheres de cultura, sois chamados a construir pontes, a criar espaços de encontro e diálogo, a iluminar as mentes e a aquecer os corações”, indicou.
O Papa refere na sua reflexão que Jesus promove uma “revolução da perspetiva”, com o seu ensinamento, que “proclama felizes os pobres, os aflitos, os mansos, os perseguidos”.
“A arte é chamada a participar nesta revolução. O mundo precisa de artistas proféticos, de intelectuais corajosos, de criadores de cultura”, assinala a homilia.
“Deixai-vos guiar pelo Evangelho das Bem-Aventuranças e que a vossa arte seja anúncio de um mundo novo. Que a vossa poesia no-lo mostre! Nunca deixeis de procurar, interrogar, arriscar”, acrescenta a reflexão, lida em italiano por D. José Tolentino Mendonça.
O Jubileu dos Artistas e do Mundo da Cultura reuniu mais de 10 mil participantes de mais de 100 nações dos cinco continentes, incluindo Portugal e vários países lusófonos.
O Ano Santo, 27.º jubileu ordinário da história da Igreja, foi proclamado pelo Papa Francisco na bula intitulada ‘Spes non confundit’ (A esperança não engana) e teve início no dia 24 de dezembro de 2024, com a abertura da Porta Santa na Basílica de São Pedro.
“A esperança não é uma ilusão; a beleza não é uma utopia; o vosso dom não é um mero acaso, é um chamamento. Respondei com generosidade, com paixão, com amor”, indica o Papa.
Segundo o texto, as bem-aventuranças, proclamadas por Jesus, “contradizem a lógica do mundo e convidam a olhar a realidade com olhos novos, com o olhar de Deus, que vê para além das aparências e reconhece a beleza, até mesmo na fragilidade e no sofrimento”.
“Vós, artistas e pessoas de cultura, sois chamados a ser testemunhas da visão revolucionária das bem-aventuranças. A vossa missão não se limita a criar beleza, mas a revelar a verdade, a bondade e a beleza escondidas nos recantos da história, a dar voz a quem não tem voz, a transformar a dor em esperança”, apela o Papa.
A reflexão assinala que o mundo vive uma época de “crises complexas, que são económicas e sociais, mas, antes de mais, são crises da alma, crises de sentido”.
“Coloquemo-nos a questão do tempo e a questão do rumo. Somos peregrinos ou errantes? Caminhamos com uma meta ou andamos à deriva, perdidos? O artista é aquele ou aquela que tem a função de ajudar a humanidade a não se desnortear, a não perder o horizonte da esperança”.
A homilia alerta para a ilusão de uma “esperança fácil, superficial e desencarnada”.
“A verdadeira esperança entrelaça-se com o drama da existência humana. Não é um refúgio confortável, mas um fogo que arde e ilumina, como a Palavra de Deus. Por isso, a arte autêntica é sempre um encontro com o mistério, com a beleza que nos supera, com a dor que nos interpela, com a verdade que nos chama”, observa o Papa Francisco.


