Uma decisão europeia vem criar legislação proteccionista a uma espécie piscícola muito vulgar no Douro, mas cada vez mais rara. A intenção é permitir a livre circulação entre os rios e os mares
Em tempos, foi o regalo dos pescadores do rio Douro. Com a construção das barragens, esteve quase em vias de extinção. As “passagens piscícolas” não funcionaram e a espécie encontrou, nas grandes represas, um grande obstáculo ao seu percurso reprodutivo. Entretanto, um órgão da União Europeia, a CITES (Convenção sobre o Comércio Internacional de Espécies de Fauna e da Flora Selvagens Ameaçadas de Extinção) colocou sob a sua protecção precisamente a enguia-europeia (Anguilla anguilla), variedade muito comum, no rio Douro.
Esta decisão assentou não só na pesca excessiva, noutros países europeus, mas, também, pelo facto de a mesma estar em vias de desaparecer. O projecto tem como alvo aumentar a reprodução das enguias, deixando que, pelo menos 40 por cento delas, passem dos rios para o mar, o que, no rio Douro, não acontece. Esta medida pretende, também, fazer o repovoamento de alguns rios europeus, através da produção de enguias juvenis, pela aquacultura. Esta posição comunitária vem, de certa forma, salvaguardar a espécie, dado que será adoptado um Plano de Protecção. Portugal espera que a inclusão da enguia na CITES que controla o comércio de mais de 33 mil espécies vá agilizar a fiscalização da legislação nacional, uma vez que, em Portugal, é proibida a captura do meixão ou enguia-bebé, à excepção do rio Minho.
De referir que a enguia vive entre o mar e o rio. É pescada, sobretudo, nos estuários da Europa Ocidental, quando os meixões (enguias-bebés) chegam do oceano e procuram os rios, para aí crescerem. Ou, por outro lado, quando os adultos chegam ao Atlântico, para aí se reproduzirem, no Mar dos Sargaços, zona que vai desde as Antilhas à Florida.
Jmcardoso