O dia era de festa, com a visita Régia de D. Dinis a terras transmontanas, e o povo reuniu-se em força para receber a mais alta figura do Reino. Ninguém quis perder a visita de tão ilustre personalidade à vila situada no Douro Superior. Todos trabalharam afincadamente para a chegada do rei, da rainha e de toda a corte real. Sempre bem disposto, D. Dinis agradeceu a hospitalidade das gentes destas terras, que era uma das prediletas de Sua Majestade. Aproveitou a visita para fazer as conceções régias aos moradores de Moncorvo, assistir ao treino dos cavaleiros, justas e torneios, fez investiduras de novos cavaleiros, esteve no pelourinho (local onde se executa a justiça, com a aplicação de penas muito diversificadas, exceto a condenação à morte), participou em diversos atos oficiais e atividades de convívio e lazer. No final do dia, o Rei recolheu aos seus aposentos e prometeu voltar e trazer boas novas a Torre de Moncorvo, uma terra que tem grandes potencialidades e que Sua Majestade gosta de visitar. Já o povo continuou a festejar nas tabernas ao som das gaitas e dos tambores.
Com trezentos figurantes e mais de vinte mil visitantes, durante quatro dias, Torre de Moncorvo voltou a ser um burgo medieval em que cavaleiros com pesadas armaduras empunham grandes espadas e disputam torneios. Como não poderia deixar de ser, mercadores, artesãos, ferreiros, padeiros, almocreves e vendedores de licores também marcaram presença. Pelas ruas, saltimbancos, músicos, malabaristas e cuspidores de fogo exibem as suas artes, fizeram com que os visitantes se sentissem transportados no tempo, já que apreciaram cenas da vida quotidiana da época e participaram nos festins, saboreando as iguarias de outros tempos.
Rui Esperto, um habitante de Torre de Moncorvo, gosta destes dias medievos que se vivem na vila, uma vez que as pessoas aderem e é também bom para os agentes económicos da região. “A autarquia, as associações locais e as juntas freguesias estão unidas na promoção desta iniciativa, que tem vindo a afirmar-se paulatinamente e traz cada vez mais turistas, que animam esta pequena vila. Os produtores do concelho expõem os seus produtos, fazem mais negócio, e também vêm comerciantes de fora. As pessoas do concelho aderem a esta festa e vestem-se a rigor”.
No Posto de Turismo, as pessoas podem pedir emprestado trajes de época, outros optam por comprar, mas também se podem alugar e há quem faça os próprios trajes para reviver na plenitude estes quatro dias diferentes.
Voltando ao séc. XXI, o presidente da autarquia, Nuno Gonçalves, espera que “aqueles que nos denominam de territórios de baixa densidade” percebam que no interior se fazem ações de excelente qualidade e esta é uma mostra que pretende atrair “não só a população do concelho, mas também de concelhos vizinhos e do litoral”. “Terras de Moncorvo foi um dos territórios mais importantes da época medieval, com os seus ofícios, e o próprio rei D. Dinis dizia que era sua vila preferida. É importante chamar a atenção dos governantes atuais que há muitos anos uma vila do interior era um dos concelhos prediletos do rei, e seria bom que o poder central pudesse olhar para nós dessa forma”, sublinhou o edil.
Esta iniciativa tem potencial e a autarquia pretende continuar a promover esta visita ao passado, sobretudo para que os mais novos “percebam o que é uma feira medieval”. Além disso, a população da vila participa ativamente no certame e veste-se a rigor para receber a visita do chefe do Reino. “É importante perceber o que era viver em Torre de Moncorvo no séc. XIV e dar a conhecer os ofícios que existiam na vila, nomeadamente a forja ao ferro e como nós temos a expectativa que as minas reabram brevemente, é também uma forma dos mais novos perceberem esta tradição que o ferro tinha na nossa vila”, sustentou Nuno Gonçalves.
O presidente mostra confiança que avance a prospeção de ferro nas minas ainda no decorrer deste ano. “Uma das concessionárias irá apresentar o estudo de impacte ambiental e esperamos que a abertura seja uma realidade. Ainda este ano esperamos que se possa fazer alguma prospeção. A União Europeia e o país precisam deste recurso, agora é preciso conciliar a necessidade com a vontade para que as minas de Torre de Moncorvo sejam uma realidade”.