Aviso já: texto não recomendado a pessoas sensíveis, sobretudo com dezoito anos de idade (ou alguns, com menos), que gostam de frequentar discotecas e que apreciam — supostamente, estas pessoas apreciam — aquele estilo de música em que basicamente existem latas a baterem umas nas outras e as letras são monótonas, repetitivas, esgotantes, exaustivas — uma treta, para ser mais específica; a camada mais velha vai entender-me.
(Ah, fui demasiado seletiva? Que pena…).
Epá (sim, vou usar um epá novamente para expressar com maior convicção a minha revolta, a minha fraca paciência para estar a perder o meu tempo a escrever sobre algo que me incomoda até às entranhas deste meu belo corpo), no outro dia, estava eu muito bem a andar tranquilamente pela rua da minha vila, uma vila pacata, repleta do mais plácido sol ao mais plácido ressonar de um velho que acorde resmungão depois da sua sesta, e eis que me deparo com um ruído, um som inqualificável que me conduziu às tonturas mais tempestuosas que alguma vez presenciei — torno a repetir — no meu belo corpo. Um garoto, com o seu grupo de amigos, levava consigo uma telefonia nas mãos, uma coluna, aquela dos “mitras” que só costumam ser vistos nas grandes cidades, e eis que a letra, uma salada safada sai por ali aos berros:
“Olha aaaaaaaaa explosão, quando ela mexe com a bunda no chão”.
Eu pisco os olhos, embasbacada, estática e com receio dos estilhaços da explosão. E torno a voltar à realidade, à dura realidade e desta vez oiço:
“Essa novinha é terrorista, é especialista”.
E eu torno a espreitar o mundo a redor, à espera que a sacana apareça do nada.
Mas nada. A sacana é sagaz, esconde-se, por entre as linhas sinfónicas reproduzidas. Que é isto! Que fizeram ao Luan Santana? Que, pelo menos, convenhamos, era um bimbas lamechas, mas ao menos não reproduzia letras insignificantes, era sobre o amor, a dor, a deceção. Era carne e osso…o poder do sentimento! Agora, agora aclamam ao terrorismo? Às bundas das demais? Imaginam o Pedro Álvares Cabral, a reação a estes versos?
“Oh, meu Portugal, que fizestes ao ouro, e porque importais infames bugigangas?”
E ensandeço! É desta que eu perco a minha sanidade – se é que ela alguma vez existiu.