Quinta-feira, 5 de Dezembro de 2024
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Esfunkeiem-me os ouvidos

Epá desculpem, isto é assim: eu tentei, tentei controlar-me para não abordar o assunto, quase usei uma mordaça para me impor perante os impulsos, mas não contem mais comigo para me resignar ao silêncio, lá porque vou tocar no subjetivismo, nas preferências de cada um.

Aviso já: texto não recomendado a pessoas sensíveis, sobretudo com dezoito anos de idade (ou alguns, com menos), que gostam de frequentar discotecas e que apreciam — supostamente, estas pessoas apreciam — aquele estilo de música em que basicamente existem latas a baterem umas nas outras e as letras são monótonas, repetitivas, esgotantes, exaustivas — uma treta, para ser mais específica; a camada mais velha vai entender-me.

(Ah, fui demasiado seletiva? Que pena…).

Epá (sim, vou usar um epá novamente para expressar com maior convicção a minha revolta, a minha fraca paciência para estar a perder o meu tempo a escrever sobre algo que me incomoda até às entranhas deste meu belo corpo), no outro dia, estava eu muito bem a andar tranquilamente pela rua da minha vila, uma vila pacata, repleta do mais plácido sol ao mais plácido ressonar de um velho que acorde resmungão depois da sua sesta, e eis que me deparo com um ruído, um som inqualificável que me conduziu às tonturas mais tempestuosas que alguma vez presenciei — torno a repetir — no meu belo corpo. Um garoto, com o seu grupo de amigos, levava consigo uma telefonia nas mãos, uma coluna, aquela dos “mitras” que só costumam ser vistos nas grandes cidades, e eis que a letra, uma salada safada sai por ali aos berros:

“Olha aaaaaaaaa explosão, quando ela mexe com a bunda no chão”.

Eu pisco os olhos, embasbacada, estática e com receio dos estilhaços da explosão. E torno a voltar à realidade, à dura realidade e desta vez oiço: 

“Essa novinha é terrorista, é especialista”.

E eu torno a espreitar o mundo a redor, à espera que a sacana apareça do nada. 

Mas nada. A sacana é sagaz, esconde-se, por entre as linhas sinfónicas reproduzidas. Que é isto! Que fizeram ao Luan Santana? Que, pelo menos, convenhamos, era um bimbas lamechas, mas ao menos não reproduzia letras insignificantes, era sobre o amor, a dor, a deceção. Era carne e osso…o poder do sentimento! Agora, agora aclamam ao terrorismo? Às bundas das demais? Imaginam o Pedro Álvares Cabral, a reação a estes versos?

“Oh, meu Portugal, que fizestes ao ouro, e porque importais infames bugigangas?”

E ensandeço! É desta que eu perco a minha sanidade – se é que ela alguma vez existiu.

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