Reitero, mais uma vez, a minha oposição, dando voz também à preocupação das populações barrosãs, que tenho o prazer de servir como padre. Nasci em Barroso, região que prezo pela sua beleza paisagística, pela pureza do ambiente, pela virgindade da natureza, pela sua ruralidade e tranquilidade, pela gente valente e prazenteira, trabalhadora e generosa que a habita. É uma riqueza de incalculável valor.
Importa, antes de mais nada, perguntar: O Estado assina um acordo com uma empresa três dias depois da sua fundação, entrega-lhe a possível exploração de uma parte do seu território e não se importa de saber se tal empresa tem capacidade para o fazer como deve ser? Um Estado assim é um Estado incompetente. Depois, se calhar, nem lembraria ao diabo abrir imensas minas a céu aberto junto de aldeias e entre aldeias, com destruição das nascentes de água e de pastos e campos agrícolas, nas bardas de rios com uma biodiversidade ímpar, junto à albufeira que abastece com água potável grande parte da região norte, mas, pelos vistos, lembrou aos grandes estrategas e governantes do nosso país. E a estupefação cresce quando, segundo a opinião de muitos geólogos, que nos últimos tempos deram entrevistas e publicaram bons artigos sobre o assunto, não existirá no recôndito solo barrosão uma tal quantidade de lítio que justifique a exploração e torne o negócio rentável, mas com grande impacto para as populações locais e para os atributos naturais da região. O lítio existente em Barroso é ínfimo, é de difícil exploração e terá um alto custo na sua obtenção final. Coloca-se então a pergunta: por que é que existe, afinal, tanta sofreguidão pelo lítio de Barroso?
Começa-se a desvendar o mistério: a União Europeia, a correr contra o tempo e medindo forças com a toda poderosa China, disponibilizou uma grande proporção de fundos comunitários para a obtenção de lítio em solo europeu. Os grandes interesses capitalistas estão no terreno para poderem apresentar projetos de exploração, com direito a fundos comunitários, seja onde for, com muito ou pouco lítio. O que importa mais uma vez é sorver o dinheiro fácil que vem da União Europeia. Estamos conversados.