É uma das grandes lutas das associações académicas nos últimos anos. A falta de alojamento, ou os preços elevados, tem levado a que muitos alunos acabem por abandonar a cidade onde se deveriam formar.
Maria Ferreira, presidente da Associação Académica da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (AAUTAD), confessa que “já soubemos da existência de casos de desistência” e que, por outro lado, “temos colegas mais corajosos que se deslocam, todos os dias, da sua cidade para Vila Real, quando a distância é curta o suficiente que justifique tal feito, mas é uma situação que se torna desgastante”.
Antes da pandemia, a UTAD dispunha de 532 camas, “no entanto, o número foi reduzido em 32% devido à Covid-19, ou seja, atualmente, dispomos de 358”, indica a líder estudantil, salientando que “num mundo utópico, teríamos uma cama para cada estudante, o que no nosso caso se traduziria em 7339 camas”.
“A UTAD tinha, antes da pandemia, 532 camas disponíveis. Atualmente dispomos de 358″
MARIA FERREIRA
PRESIDENTE AAUTAD
“A nossa instituição tem um perfil bastante peculiar, sendo que 70% dos estudantes são deslocados e cerca de 34% são bolseiros. Sabemos que não é possível oferecer alojamento a todos os estudantes da academia, mas pelo menos estes deveriam ter uma garantia”, afirma.
Subindo um pouco no mapa, também os representantes dos estudantes do Instituto Politécnico de Bragança (IPB) se queixam da falta de oferta. Hugo Nobre é presidente da Associação de Estudantes e, à VTM, referiu que “a falta de alojamento é um problema nacional” e que “estamos a tomar medidas, junto das entidades locais, para aumentar os recursos disponíveis”.
“Estamos a tomar medidas, junto das entidades locais, para aumentar os recursos disponíveis”
HUGO NOBRE PRESIDENTE AAIPB
Em Mirandela, José Eduardo Silva, que representa os estudantes da Escola Superior de Comunicação, Administração e Turismo (EsACT – IPB), lamenta o facto de “haver pouca oferta”, acrescentando que “os preços estão cada vez mais inflacionados”. A isto junta-se o facto de “em Mirandela não existirem residências. Os alunos têm de procurar alojamento particular, levando a que tenham de dividir quarto e, muitas vezes, as condições não são as melhores”, dando como exemplo “as questões de humidade nas habitações”.
Sobre este assunto, também Maria Ferreira tem uma palavra a dizer. “Se há cinco anos encontrávamos um quarto por 100 euros, hoje, o mesmo quarto, nas mesmas condições, custa 175, 200 ou 250 euros. São valores incomportáveis para os estudantes com orçamentos mais modestos, sendo que existe cada vez mais a clara preferência dos senhorios por acolherem famílias em vez de estudantes”.
“Não há residências. Os alunos têm de procurar alojamento particular, e, muitas vezes, as condições não são as melhores”
JOSÉ EDUARDO SILVA
PRESIDENTE AE EsACT
SOLUÇÕES
O Governo tem procurado responder à falta de alojamento, tendo já anunciado a criação de camas, a preços acessíveis.
Do lado dos estudantes, a solução passa, também, pelas autarquias que dizem ter “um papel fundamental”.
“Estabelecer protocolos com as autarquias de modo a encontrar soluções de alojamento seria, certamente, o processo mais benéfico para resolver o problema. Estabelecer, por exemplo, contratos de cedência de espaço que possam ser reabilitados para se tornarem residências universitárias iria colocar-nos no bom caminho para mitigar este problema”, refere Maria Ferreira.
Também José Eduardo Silva defende que “as autarquias são fulcrais para colmatar a anomalia no imobiliário para estudantes. É preciso que reconheçam que é vantajoso desenvolver o ensino superior nos seus concelhos e para isso é necessário intervir, investir e valorizar”.
“É do nosso interesse, e nosso dever, cooperar com as autoridades locais e nacionais para encontrar soluções rápidas e eficazes que reduzam a dificuldade que alguns alunos têm em encontrar alojamento”, reforça Hugo Nobre.