Cerca de um em cada quatro alunos do Ensino Secundário estuda numa escola privada.
O ensino público não vai ao encontro das pretensões de cada vez mais encarregados de educação, levando a que estes optem pelo ensino privado, assumindo custos extra com a educação, para além daquilo que já contribuem, através dos seus impostos, para a educação pública. A qualidade dos professores, a proposta educativa, a oferta de atividades extracurriculares, o número de alunos por turma ou a qualidade das infraestruturas, são alguns dos fatores apontados pelos pais para justificar esta escolha.
No início da década de 60, a percentagem de alunos do secundário ao frequentar o ensino privado era elevada (36,3%), mas reduziu drasticamente até ao final do Estado Novo (10,9% em 1974), à medida que a oferta pública aumentava e que o Ensino Secundário se tornava acessível a mais estudantes: de cerca de 13 mil alunos no ensino secundário em 1961, passou-se para 44 mil em 1974, ou seja, o número quase quadruplicou em pouco mais de 10 anos.
A percentagem de alunos no ensino privado continuaria a reduzir até 1981, atingindo o valor mais baixo nesse mesmo ano (2,2%). A partir do início da década de 80 a percentagem de alunos do secundário no ensino privado tem vindo a crescer progressivamente, atingindo um pico em 2009 (24,2% dos alunos) e mantendo-se depois em valores próximos de 21% na década seguinte. Em 2021 voltou a assistir-se a um crescimento elevado da percentagem de alunos do secundário no ensino privado, atingindo o valor mais elevado do pós-25 de Abril (24,3%).
Sabendo que uma parte significativa da população não tem opção de escolha (os jovens frequentam a escola pública da sua área de residência), a crescente preferência por escolas privadas por parte de quem pode escolher (ou seja, quem tem capacidade financeira para assumir um duplo custo com a educação: pagar a escola pública através dos seus impostos e ainda pagar o ensino privado) revela dois aspetos claros: os pais consideram o ensino privado cada vez melhor que o público (caso contrário não tomariam essa opção com custos extra) e acentua-se o fosso social entre ricos e pobres, que cada vez menos partilham os mesmos estabelecimentos escolares. Um contexto muito pouco social e inclusivo num setor fundamental onde as liberdades e o potencial de desenvolvimento divergem muito de acordo com o dinheiro que se tem na carteira.