Ajudou todos aqueles que o procuravam. A minha mãe e as minhas tias falavam dele como um padre-santo amigo dos despojados e indigentes. Tinha um coração de ouro. Nos anos 40, as criaturas nas aldeias transmontanas eram misérrimas, viviam na gélida nudez da falta do pão. Os pobres repartiam-no pelos mais pobres e no inverno chegavam-se uns aos outros para se aquecerem. Eram tempos em que os pobres tinham as mãos calosas, as caras enrugadas e as lágrimas abriam sulcos pelos dias sem pão.
Nas horas mais difíceis o Padre Henrique parecia adivinhar quem não tinha nada para comer. Dirigindo-se a um casebre em Mateus onde dentro vivia um casal com doze filhos, o padre, depois de confortar espiritualmente a todos, foi generoso deixando uma quantia de dinheiro para que durante uns meses não houvesse fome naquele tugúrio assombrado pela miséria e falta de esperança.
Veio a última vez a Vila Real quando a Dona Susete, esposa do Engenheiro Osório morreu. Chorou o padre porque para ele a lágrima era fácil quando confrontado com o sofrimento alheio. Altruísta, era conhecido como o padre de coração grande, o homem feito à imagem de Deus.
Era conhecido também por Dr. Henrique porque o Humanista fez vários cursos de nível superior almejando as maiores façanhas da esfera do conhecimento universal… será que Vila Real o perpetuará através de uma toponímia?
Há homens que engrandeceram a história de Vila Real. Há homens que pelo seu exemplo de vida devem ser lembrados para que outros os sigam e os copiem naquilo que de grandioso fizeram. Homens como o Padre Henrique fazem inchar as raízes e crescer as flores e as árvores das terras. Homens virtuosos que acarretam, moem o pão dos moinhos e da vida, colorindo de harmonia as aguarelas do interior de cada um de nós.
Natural de Sanfins do Douro onde nasceu em 11 de novembro de 1920. Frequentou o Seminário de Vila Real em 1933. Foi professor no Seminário de Vila Real, no Liceu de Camilo Castelo Branco, na Escola Industrial do Faial, no Magistério de Évora, etc…
Padre Henrique Maria dos Santos, faleceu com 94 anos de idade sendo um dos mais afamados e aclamados pregadores do seu tempo… quem o ouvia empolgava-se e chorava por vezes de emoção. A sua dicção favorecia a retórica e a força da palavra… impossível era ficar indiferente quando ele falava com os argumentos que lhe saíam da força da sua alma.