Travancas e Mairos, no concelho de Chaves, uniram-se no domingo para festejar a inauguração de um monumento à memória do Abade de Baçal, no espaço contíguo à capela do Senhor dos Aflitos, edificada por ele em 1893 em umas ruínas romanas do termo de Travancas, quando o então jovem padre paroquiava as duas freguesias.
O memorial, um monólito de granito polido, encimado por uma pirâmide quadrangular, como os obeliscos de homenagem a Rá, deus solar do Antigo Egipto, tem quatro faces, revestidas, duas delas, com painéis de azulejos brancos e azuis.
No lado voltado para o Setentrião, sobre a imagem do sábio abade, está gravada em baixo-relevo a expressão latina “In Memoriam”. Na face oposta, voltada para sul, o painel de azulejos ilustra a capela atual, encimada por um galero, chapéu heráldico usado pelos abades, com asa larga e cordões terminados em borlas, caídos sobre o peito.
Se a gente de Mairos tem viva a ligação do Abade de Baçal à aldeia, em Travancas ignora-se que tivesse sido pároco da freguesia e nada se sabia sobre a origem da capela do Senhor dos Aflitos. Todavia, está tudo documentado, basta investigar nos arquivos de registo paroquial de Travancas e ler as Memórias Histórico-Arqueológicas do Distrito de Bragança, obra monumental do abade.
Admirador da obra do Abade de Baçal e do homem de bem, o professor Adriano Pereira tirou do limbo do esquecimento uma página do passado da Paróquia de São Bartolomeu de Travancas, propondo aos presidentes das Juntas de Freguesia, Filipe Maldonado Pinto e Adriano Rodrigues, para que o caminho velho, entre Travancas a Mairos, se passasse a chamar Caminho do Abade de Baçal.
A anuência à ideia foi imediata e entusiástica. Para os dois autarcas, a oferta de colocação de placas toponímicas, em 2020, à saída de cada aldeia, valoriza o património cultural das duas freguesias e enquadra-se em projetos mais vastos de sinalização de caminhos históricos ou de contrabando, para usufruto de caminhantes residentes e visitantes ávidos de mergulhar na natureza.
Um ano após a colocação das placas toponímicas, o Memorial ao Abade de Baçal e o ajardinamento do espaço envolvente, junto à capela que fundou, vai consagrar para a posteridade que o ilustre abade “é património imaterial da freguesia, reconhecido e acarinhado pela sua gente”.
IDENTIDADE LOCAL
Delmino Fontoura, pároco de Mairos e Travancas, celebrou a eucaristia dominical, pelas 16h00. No final da missa fez a bênção do monumento e uma alocução à vida e obra do abade.
Coube a Nuno Vaz, presidente da Câmara Municipal de Chaves, inaugurar o memorial retirando, juntamente com Adriano Pereira, as bandeiras que cobriam o obelisco raiano. Na sua intervenção focou a importância da obra do abade e enalteceu o papel de cidadãos na preservação da identidade local.
Francisco Manuel Alves, nome do abade, filho de lavradores abastados, nasceu em 9 de abril de 1865, em Baçal, aldeia do concelho de Bragança, e faleceu aos 82 anos, em 13 de novembro de 1947.
Aos 24 anos, após concluir os estudos no seminário de Bragança, foi nomeado pároco encomendado de Mairos, pertencente, como todas as paróquias do extinto concelho de Monforte de Rio Livre, à diocese de Bragança e Miranda do Douro. A diocese de Vila Real, à qual Mairos e Travancas hoje pertencem, só foi criada em 1922.