Rafaqat Alia, do Paquistão, e Rashpal Singh, da Índia, são dois desses exemplos. Trabalharam na agricultura, nas zonas de Odemira e Faro, e estão agora na empresa ASG Construções e Granitos, em Vila Pouca de Aguiar.
Rafaqat Alia, 44 anos, está há um ano e oito meses em Portugal. Trabalhava na agricultura no país natal e foi também neste setor que começou por trabalhar, em Odemira, no Sul de Portugal. Mudou-se porque nas pedreiras o trabalho “é contínuo”, enquanto na agricultura era sazonal. “Eu gosto de trabalhar aqui”, afirmou. O imigrante, que comunica em inglês, disse também que o salário na pedreira “é melhor”, onde à remuneração base acrescem as horas extra e ainda o trabalho no dia de sábado.
A empresa disponibiliza casa, paga eletricidade, água e ainda Internet, que os imigrantes usam para falar diariamente com a família. Um objetivo comum aos dois é trazerem a família dos países de origem. Rafaqat Alia tem quatro filhos e Rashpal Singh dois. São ambos operários, trabalham com máquinas que cortam a pedra em cubos, as quais estavam paradas antes da chegada destes imigrantes.
“Tinha encomendas atrasadas há mais de um ano”, afirmou Mauro Gonçalves, responsável pela ASG Construções e Granitos e presidente da Associação dos Industriais do Granito (AIGRA), que há muito tempo alerta para a falta de mão de obra neste setor.
O responsável explicou que, durante a crise de 2010/11, muitos jovens emigraram e que, quando o setor começou a sentir uma retoma a partir de 2015, foi necessário “voltar a contratar”. “Quando fomos ao mercado não encontrámos pessoas para executar esse trabalho e foi a partir daí que nós pensámos em recrutar mão de obra estrangeira”, referiu.
Em julho de 2020 foi anunciado um projeto-piloto para o concelho de Vila Pouca de Aguiar que tinha como objetivo a integração de famílias de refugiados para dar resposta à falta de mão de obra na indústria de extração e transformação de granito.
Para operacionalizar este projeto decorreu, naquela altura, uma reunião de trabalho que juntou a AIGRA, o município de Vila Pouca de Aguiar, as secretárias de Estado para a Integração e as Migrações e a da Valorização do Interior e o Alto Comissariado para as Migrações. No entanto, segundo Mauro Gonçalves, até hoje “nada foi feito” no âmbito desse protocolo.
“Eu cheguei a estas pessoas através da Internet, do passa a palavra, de pessoas que já conheciam outras pessoas e, aos bocadinhos, fomos trazendo estes trabalhadores para o nosso território e a maioria veio de Odemira”, referiu.
Mauro Gonçalves garantiu que aqui encontram “boas condições” de trabalho e de habitabilidade. Na sua empresa estão agora oito imigrantes do Paquistão, Índia e Brasil. No concelho de Vila Pouca de Aguiar há cerca de 30 estrangeiros na indústria do granito e à volta de 100 no distrito.
Em Boticas, a Granidias tem um trabalhador paquistanês e aguarda a chegada de mais dois. “Tem sido bastante difícil. Neste ramo a mão de obra está cada vez mais escassa, apesar de ter cada vez mais procura, mas com esta escassez torna-se complicado e, por isso, tivemos que recorrer a outros mercados”, afirmou o empresário Luís Dias.
Na empresa já trabalharam outros imigrantes, alguns do Uzbequistão, que se traduziram “numa boa experiência” e com quem Luís Dias vai mantendo o contacto depois de regressarem à terra natal. “A experiência diz-nos que a adaptação é fácil”, referiu, salientando que se pretende a fixação destes estrangeiros, juntamente com as suas famílias, para ajudar também a combater o despovoamento destes territórios.
No distrito de Vila Real existe uma centena de empresas ligadas ao granito, que empregam cerca de 750 pessoas e representam um volume de negócios na ordem dos 100 milhões de euros por ano. Cerca de 60% da produção é destinada à exportação.