Sábado, 7 de Dezembro de 2024
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Jornais desaparecidos: Leitores ficam órfãos

O que está a acontecer, agora, com os administradores da Global Media que, em tempos ainda não muito recuados, adquiriram o grupo que possui alguns títulos da imprensa portuguesa.

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Alguns deles bem prestigiados (como o “Jornal de Notícias”, o “Diário de Notícias”, o “Jogo” ou a estação de rádio bem conhecida e conceituada, a TSF) não é propriamente novo mas não deixa de ser uma situação desalentadora por terem sido sempre, até aqui, projetos bem solidificados, estruturados e rentáveis. Os dois diários de grande envergadura que são o “JN” (sede no Porto) e “DN” (sede em Lisboa) são produtos de muitas gerações de trabalhadores e gestores que consolidaram, com critério e competência, tais projetos.

“O Diário de Notícias e o Jornal de Notícias foram jornais de renome indiscutível que, durante anos de mais, tiveram dois magníficos edifícios que possuíam desde os anos de glória. Cada novo gestor ou dono anunciava reestruturações fantásticas. Agora anuncia-se o fecho. O seu fim não ameaça mais a democracia do que o facto de estar permanentemente a soldo de interesses obscuros”.
Henrique Monteiro, in “Expresso”

A campainha tocou quando foi anunciada a transferência do Jornal de Notícias para outro local que não o icónico, majestoso e bem visível edifício de Gonçalo Cristóvão que os antecessores desta geração capitalista fundaram, desenvolveram e souberam manter, apesar das dificuldades do setor e dos desafios tecnologicamente cada vez mais desenvolvidos.

A campainha já tocou duas vezes no Porto

A transferência do jornal para o Monte dos Burgos, afastando-o do centro da cidade e da proximidade das pessoas, deixava antever o que parece estar a acontecer: o encerramento do diário portuense. Já o mesmo tinha acontecido quando “O Comércio do Porto” foi arredado da Avenida dos Aliados para a Rua Formosa e o “Primeiro de Janeiro” também retirado da Rua de Santa Catarina para a parte mais oriental da cidade “invicta, mui nobre e leal”.

É que os valores atuais do capitalismo estão a enveredar por outras vias. As cidades estão a ser visitadas por turistas, as ofertas maiores são ao nível do turismo, da restauração e da hospedagem e os hotéis (muitos deles de luxo) proliferam como cogumelos. Assim aconteceu na Avenida dos Aliados (onde já moraram o “Jornal de Notícias” e “O Comércio do Porto), onde as unidades de alojamento (ali e nos arruamentos periféricos) já não se podem contar sequer pelos dedos das mãos.

Cada vez menos jornais

O edifício magnífico, lindo e alto, elegante e bem colocado do JN foi sempre uma tentação para vorazes empresários situados em vários sítios (até nas Bahamas). Para conseguirem o seu objetivo, foi mais fácil fazerem uma coisa: comprá-lo para o transformar, desviar os jornalistas para os despedir.

“A crise da comunicação social em Portugal é de tal forma aguda que até quem nunca abriu um jornal já deu por ela. Despedimentos anunciados de dezenas ou centenas. Acionistas desconhecidos em empresas históricas. Atrasos de salários. Debandada de direções. Negócios que se perpetuam sem lucro nem racional. Dificuldades financeiras crónicas. Há incúria, má fé, má gestão, azar, erros de cálculo, até mera inabilidade. Há de tudo: coisas piores e outras menos más”.
João Silvestre, in “Expresso”

Terminará, assim, um caminho longo e cheio de qualidades em jornais que marcaram épocas, assim como a formação, a socialização, a educação, a literacia e a consciencialização dos seus leitores (agora ficarão órfãos) e da generalidade dos portugueses.

Este facto faz-nos lembrar a grande série de publicações da imprensa escrita que existiu em Portugal e que foi desaparecendo. E se no meio desses títulos houve alguns que surgiram quase apenas por oportunismo político (até partidário) ou por aventura e crença nos novos tempos após abril de 1974, outros tiveram existência digna e dignificante, independentemente da altura em que apareceram ou da idade com que desapareceram.

Passamos a citar apenas os jornais diários e semanários que tiveram presença mais marcante em Portugal e na sociedade portuguesa.


JORNAIS DIÁRIOS

“A Capital”
“O Comércio do Porto”
“O Dia”
“O Diário”
“Diário da Manhã”
“Diário de Lisboa”
“Diário do Governo”
“Diário do Norte”
“Diário Económico”
“Diário Popular”
“A Época”
“Extra”
“Jornal do Comércio”
“Jornal do Contribuinte”
“Jornal Novo”
“Notícias da Amadora”
“Notícias da Tarde”
“Nova Época”
“O Primeiro de Janeiro”
“República”
“O Século”
“O Século Ilustrado”
“A Tarde”
“A Tribuna”
“Vitória”


JORNAIS SEMANÁRIOS

“ABC”
“Aqui e Agora”
“Barricada”
“Blitz”
“Comércio do Funchal”
“O Crime”
“Crítica”
“& Etc”
“Equipa”
“Gazeta da Semana”
“Gazeta de Coimbra”
“Gazeta dos Desportos”
“Gazeta Fiscal”
“Golo”
“O Independente”
“O Jornal”
“Jornal da Legião”
“Jornal da Sexologia”
“Jornal de Letras”
“Jornal do Centro”
“Jornal do Fundão”
“Jornal do Incrível”
“Letras e Artes”
“O Liberal”
“A Luta”
“A Memória do Elefante”
“Metro”
“Mundo Agrário”
“Mundo Desportivo”
“Mundo Moderno”
“Musicalíssimo”
“Norte Desportivo”
“Observador”
“Página Um”
“Povo Livre”
“Press”
“O Rebelde”
“Resumo Mundial”
“Réplica”
“Rossio”
“A Rua”
“S. S. D. – Sexta, Sábado, Domingo”
“Semanário”
“Semanário Desportivo”
“Sempre Fixe”
“Sete”
“Som Único”
“Star”
“Tal & Qual”
“Tempo”
“Tempos Livres”
“O Título”
“Top, música e som”
“TV indiscreta”
“TV Top”
“Vária 8”
“Vida Económica”
“Vida Mundial”
“Vinte e quatro horas”
“Volante”
“A Voz do Povo”


OUTROS

Depois da revolução de 25 de abril, surgiram inúmeros títulos ligados à prática política emergente, sem quaisquer condicionalismos de expressão por já não serem sujeitos ao controlo da Comissão de Censura (a partir de Marcelo Caetano passou a designar-se “Exame Prévio”. Eram jornais de partidos e movimentos políticos, sindicais, tcomissões de moradores, movimentos estudantis, cultura popular, humorísticos, associações desportivas e socioculturais.

Lembremos alguns:
“O Alarme”, “A Batalha”, “Boletim da 15ª Divisão das Forças Armadas”, “O Chato”, “Combate Socialista”, “Classe Operária”, “Consciência Nacional”, “Fronteira”, “Folha Comunista”, “A Folha”, “Guarda Vermelha”, “O Grito do Povo”, “Jornal Camponês”, ”Jornal da Educação”, “Jornal de Luta”, “Juventude Vermelha”, “O Libertário”, “Luta Popular”, “Lutar até Vencer”, “Merda”, “Monarquia Portuguesa”, “Nortada”, “O Nosso Jornal”, “Política Operária”, “Portugal Socialista”, “O Proletariado Vermelho”, “Revolução”, “Reforma Agrária”, “Saúde pelo Povo”, “Seara Nova”, “Stop”, “O Social Democrata”, “ O Tempo e o Modo”, “Tribuna Popular”, “A Terra”, “UEC”, “Unidade”, “Vida Soviética”, “Voz Anarquista”, “A Voz do Mineiro” e “Viva a Revolução”, entre outros.

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