Um cidadão luso-americano adquiriu uma locomotiva a vapor que circulou, até 1980, na Linha do Corgo e que estava na iminência de ir para a sucata. A operação de remoção da máquina envolveu grandes meios de tracção. Vai ficar exposta numa antiga estação daquela via ferroviária também adquirida pelo empresário.
A velha máquina a vapor E 212 da Henschel que circulou, anos a fio, na Linha do Corgo, foi adquirida por João Morais, um luso-americano natural de Curalha, Chaves, e residente, há 39 anos, em Manassas, Whashington, nos Estados Unidos da América.
A locomotiva que se encontrava em degradação na estação da Régua foi carregada, ontem, num camião e levada para a antiga estação ferroviária de Tâmega, da Linha do Corgo, a poucos quilómetros de Chaves, também comprada pelo empresário, há cinco anos.
“Estou muito contente, por ter conseguido comprar esta máquina a vapor que, inúmeras vezes, circulou na via-férrea do Corgo” – disse-nos João Morais. O seu objectivo passa, agora, por recuperar a máquina (construída em 1920).
“Vamos tirar os pontos de ferrugem, fazer um tratamento à chapa e pintá- -la, com a cor original. Pretendo reconstitui-la, peça por peça” – acrescentou.
Para já, foi colocada junto da estação de Tâmega, onde será interven-cionada. Os trabalhos deverão ficar concluídos até ao final do ano. A operação envolveu uma grua com a capacidade de 225 toneladas e foi levada, pela A24, até à saída de Boticas.
João Morais confessou, ao Nosso Jornal, que, para o futuro, quer comprar uma carruagem de passageiros e uma outra das que faziam a “manutenção da Linha do Corgo”.
Recorde-se que este construtor civil, de 51 anos, também Vice-Presidente do Conselho das Comunidades Portuguesas dos Estados Unidos e Bermudas, apresentou, em 1992, uma proposta, à CP, para comprar o troço desactivado entre Vidago e Chaves, cerca de 20 quilómetros de via-férrea, bem como todas as estações e apeadeiros. O objectivo era manter a linha activada, com a circulação de dois comboios turísticos. Mas a CP não concordou com a proposta. Em 1998, João Morais conseguiu alcançar o seu sonho e, por cerca de 125 mil euros, comprou a velha estação, construída em 1920, situada junto ao rio Tâmega, na área da freguesia de Curalha, a cinco quilómetros de Chaves, transformando-a na primeira a ser pertencente a um privado, na via estreita do Corgo.
A inauguração da recuperação da estação de Tâmega ocorreu, em Julho de 2003, altura em que celebrou o casamento de uma filha e, simultaneamente, o baptizado de um neto. Com a aquisição da máquina a vapor, João Morais cria, em Tâmega, o melhor “memorial” da linha-férrea do Corgo, tirando, obviamente a secção museológica de Chaves.
A E212 era uma das mais potentes máquinas a vapor que circulou na Linha do Corgo. Tinha uma força de tracção de 170 toneladas, levava sete “wagons” (incluindo quatro carruagens de passageiros) e consumia, da Régua a Chaves, 8 mil quilos de carvão.
Jmcardoso