Segunda-feira, 13 de Janeiro de 2025
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Daniel Conde
Daniel Conde
Fundador do Movimento Cívico pela Linha do Tua

Longa se torna a espera

Vinte e dois de agosto de 2008. Um novo acidente ocorria na Linha do Tua nesse ano, a pouca distância da estação da Brunheda.

Um passageiro perdeu a vida, vários ficaram feridos, e o troço Tua – Cachão, 42 dos 58 km em exploração, eram encerrados temporariamente. O problema é que os encerramentos temporários fora da dita “rede principal” dos caminhos-de-ferro portugueses só querem dizer uma coisa: encerramento sine die, com fortíssimas probabilidades – para não dizer totais – de encerramento definitivo.

Da tutela, então chefiada por Mário Lino e Ana Paula Vitorino, vinha a garantia de que a Linha do Tua não era para fechar. Corriam as primeiras páginas da história da construção da barragem do Tua, e, avançasse a obra ou não, a exploração ferroviária seria para se manter até ao início dos trabalhos o impedirem no terreno. A escolha do troço a encerrar teve apenas a ver com o contrato inicial de exploração do Metro de Mirandela, que em meados da década de 1990 previa a circulação entre o Cachão e Carvalhais; a via, essa, tão garantida estava a montante como a jusante, atestando uma arbitrariedade pungente nesta decisão.

Os anos passaram, os Governos igualmente. Veio a barragem, e com ela o Plano de Mobilidade para o Vale do Tua, compensação devida pela inundação do vale pelo paredão. Nele, a manutenção da exploração comercial em todo o troço circulável restante – da Brunheda a Carvalhais – era deixada totalmente em aberto: ou comboios regulares, ou comboios a pedido, ou autocarros de substituição, ou pura e simplesmente nada.

Veio o concurso para concessão de exploração do Plano de Mobilidade, e apenas a Douro Azul se candidatou. Esta empresa, até agora ligada de forma indelével ao turismo fluvial no Douro, foi responsável pela recuperação da via-férrea desde a Brunheda ao Cachão, onde se não era o mato a torná-la intransitável, era a própria ausência de carris e travessas furtadas a fazer esse serviço – uma cortesia da gestão danosa da extinta REFER, que para além da balastragem dos últimos quilómetros da Linha do Tua ainda assentes em lama em pleno século XXI, não trouxe mais nada que não o emparedamento de estações, retirada de linhas, ignorar de estudos de prevenção e segurança, demolição de um apeadeiro, diminuição da velocidade de circulação a mínimos históricos, e atrasos de meses na prossecução de pequenas obras de manutenção.

Desde o início de 2017, que a data de reabertura do troço Brunheda – Cachão tem vindo a ser sucessivamente adiada, estando agora pura e simplesmente em suspenso. Se da indesculpável falta de zelo e diligência dos vários responsáveis ligados às autarquias e à Agência de Desenvolvimento Regional do Vale do Tua, que pouco ou nada fizeram ao longo dos últimos 5 anos para acelerar esta reabertura, pouco há a acrescentar, existe no entanto muito a dizer sobre a atuação recente da Infraestruturas de Portugal e do Ministério do Planeamento e Infraestruturas.

Quando confrontados com um pedido de informação por escrito sobre a demora na reabertura deste troço, que alegadamente se deve apenas a uma recusa da IP em assumir os custos de manutenção da infra-estrutura da via – os da super estrutura ficarão a cargo da Douro Azul, continuando contudo a Linha do Tua a pertencer ao Estado – apenas se consegue como resposta um silêncio incómodo, empurrado para a frente. Porquê, quanto mais tempo, que condições propõem? “Espere”; “Trata-se de uma decisão política?”, contraponho; “Espere”.

Farto de esperar há 9 anos estou eu e todos os utentes e habitantes próximos da Linha do Tua, com a agravante deste pedido interminável de espera me ter custado, a mim e a outros 3 funcionários do Metro de Mirandela, o próprio emprego. Aparentemente, pedir aos cidadãos que esperem uma década para a reposição de um serviço público interrompido por manifesta incompetência do próprio Estado, é algo aceitável para os parâmetros da IP e do MPI.

Para os Xutos e Pontapés, a espera tornava-se longa, para a galera que cruzava o rio; no Tua, longa se torna a espera para uma simples resposta. “Espere”!

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