“O aumento da letalidade e também da gravidade em termos de internamentos está associado sempre ao aumento de casos, daí a necessidade de que deveríamos controlar sempre as vagas” da pandemia, disse hoje à agência Lusa o matemático e professor da Faculdade de Ciências da Universidade de Lisboa.
Carlos Antunes comentava à agência Lusa o relatório de monitorização das “linhas vermelhas” para a Covid-19 das autoridades de saúde, segundo o qual a “mortalidade por covid-19 manter-se-á provavelmente elevada nas próximas semanas, dado o aumento de casos de infeção por SARS-CoV-2 acima dos 80 anos”, o único grupo etário “no qual se observa uma tendência crescente da incidência, podendo este crescimento vir a traduzir-se no aumento de internamentos em enfermaria e mortes nas próximas semanas”.
Sobre a mortalidade por Covid-19 o relatório precisa também que foram registados “16,4 óbitos em 14 dias por um milhão de habitantes, com tendência crescente e acima do limiar do Centro Europeu de Prevenção e Controlo de Doenças (ECDC)”.
O investigador adiantou que a informação que detém mostra que os casos de morte em Portugal e os números de contágios nas faixas etárias com cobertura vacinal completa “é compatível com o que se verifica noutros países e está dentro daquilo que era expectável”.
“Não podemos esperar que com a vacina deixemos de ter óbitos e situações de gravidade”, disse, explicando que, apesar de ser em percentagem menor, vai haver sempre contágios.
Carlos Antunes sublinhou que o grupo dos mais de 80 anos tem assistido a uma tendência contrária às restantes faixas etárias em todas as regiões.
“Todos os outros grupos, desde a ocorrência do pico da pandemia a 20 ou 23 de julho, verificam uma diminuição [de casos] e o grupo acima dos 80 manteve uma tendência crescente”, afirmou, considerando que o alerta das autoridades de saúde “faz sentido”.
Comparando com as outras faixas etárias, os idosos com mais de 70 anos são os que representam a “maior ocupação” nas enfermarias, notando-se “um ligeiro aumento” entre o número de internamentos e o número de casos, desde junho.
Até meados de junho, observou-se uma redução de internamentos e de óbitos face ao número de casos, devido à proteção vacinal que reduziu mais o impacto e a gravidade.
“A partir de junho, verificou-se uma ligeira alteração da tendência nestes grupos etários dos 70 aos 79 e mais de 80. Isso são indicadores que conferem a afirmação que é feita no relatório, de que é provável que continue a aumentar o número de óbitos essencialmente acima dos 80”, salientou.
Apesar de ainda estar a analisar as causas que estão a contribuir para esta situação, Carlos Antunes aponta o efeito da gravidade variante Delta, que passou a ter maior prevalência no país a partir de junho e, devido à sua maior transmissibilidade “estar a causar uma maior gravidade e um maior impacto nesta faixa etária”.
Segundo Carlos Antunes, esta variante pode causar mais danos e poderá reduzir um pouco mais a efetividade vacinal. Sobre se pode estar relacionado com a efetividades da vacina, o investigador considerou ainda ser “muito cedo para se dizer que, com o tempo de vacinação, se reduz a imunidade”.