A Serra do Larouco é o pano de fundo desta viagem até terras de Barroso, que nos leva à União de Freguesias de Meixedo e Padornelos. Podemos dizer que se trata de uma união cheia de história e vamos perceber porquê.
Começamos por Meixedo, a última aldeia por onde se passa antes de chegar a Montalegre, vindos de Chaves. Fica a cerca de quatro quilómetros do centro da vila.
A dar-nos as boas vindas está, desde logo, a Capela de São Sebastião, construída em 1813. Ao lado, sete cruzeiros a que chamam calvário.
A viagem prossegue até ao Largo do Eirão, onde há um dos vários tanques de água existentes na freguesia. É, para muitos, o ex-líbris de Meixedo. Aqui, as atenções viram-se para a Casa da Sineta que em tempos servia para convocar o povo ou dar alertas de incêndio.
Mais à frente, a Igreja de Nossa Senhora da Natividade e também o forno do povo, que agora serve apenas para tirar fotografias.
“Não há ninguém que dê seguimento a essa tradição. Os mais velhos não têm forças para amassar o pão, e os mais novos ou estão fora, ou não querem saber”, lamenta Ricardo Moura, presidente da junta.
É ele que nos conta a história de Padornelos, freguesia que em 2013 se uniu a Meixedo. “Esta é das terras mais antigas do norte do país, tão antiga que, em 1180, foi-lhe concedido o foral por D. Sancho I”, conta, acrescentando que “fomos concelho durante 600 anos”.
Foi também aqui, mais precisamente na localidade de Sendim, que as tropas francesas foram travadas. “Na altura das invasões, foi aqui que se travaram as tropas francesas, no chamado Picoito de Sendim”, um local ermo, bem no cimo da serra, que marca a fronteira entre Portugal e Espanha.
À semelhança de Meixedo, também em Padornelos existe uma Casa da Sineta, que até à data da união de freguesias funcionava como sede da junta, e também um forno comunitário desativado, mas que pode ser visitado.
REFERENDO DECIDIU A UNIÃO
A União de Freguesias de Meixedo e Padornelos foi fundada em 2013, fruto da reorganização das freguesias. Com uma área de 35,8 km², é constituída pelas aldeias de Meixedo, Codeçoso, Padornelos e Sendim.
Ao contrário do que aconteceu em muitas freguesias do país, aqui a união foi feita de forma pacífica, ainda que tenha sido feito um referendo para que a população de Padornelos decidisse a quem se queria juntar, a Meixedo ou a Montalegre.
“Entre Meixedo e Padornelos sempre houve boas relações, aliás, sempre houve muitos casamentos entre habitantes das duas aldeias”, conta Ricardo Moura, lembrando que “fizemos um referendo e as pessoas decidiram que Padornelos se unisse a Meixedo”.
A união continua nos dias de hoje e a relação de amizade também. O presidente da junta admite que “as pessoas conhecem-se umas às outras e há outro tipo de relação”, o que facilita a governação.
“A nossa freguesia tem quatro aldeias e tentamos ter um membro de cada uma no executivo, para ser mais fácil chegar às pessoas”.
O PROBLEMA DA DESERTIFICAÇÃO
Tal como acontece um pouco por todo o interior do país, a desertificação é um problema que afeta também a União de Freguesias de Meixedo e Padornelos.
“Quando eu andava na escola viviam em Padornelos 527 pessoas e havia 120 casas habitadas. Hoje, há dias em que me vejo aflito para contar 50”, confessa Ricardo Moura. Atualmente, são cerca de 180 os habitantes da união de freguesias, numa média de 50 pessoas por aldeia.
Grande parte da população emigrou. “Entre 1960 e 1966 saíram daqui cerca de 300 pessoas com destino aos Estados Unidos da América e França”.
Por cá ficam as casas vazias, algumas delas completamente abandonadas. A junta vai tentando “preservar o património e manter a freguesia asseada”, na esperança de que “quem nos visite fique com vontade de se mudar para cá”. Mas só isso não é suficiente, é preciso que “sejam criadas políticas que criem atração nestes territórios”.
AGRICULTURA
A agricultura é a principal fonte de rendimento de quem vive nestas aldeias, nomeadamente a pastorícia. Paulo Barros, secretário da união de freguesias chama a atenção para uma característica que não existe em muitos lugares, que é o baldio.
“Antigamente, as pessoas tinham muitos animais, mas nas suas explorações não conseguiam ter tantos, se não fossem os baldios. Isso é algo que se deve aproveitar na região”.
Outra questão importante é o sistema comunitário de regadio. “Aqui temos muita água e o sistema tradicional de rega pode ser determinante para esta altura do ano, de seca”, afirma, adiantando que, “quem vive aqui, gosta de ter a sua horta e para os mais idosos é uma forma de estarem entretidos”.