“O problema das urgências em Portugal é um problema complexo. A prova são as sucessivas abordagens feitas pelas sucessivas legislaturas (…). É um problema complexo que não se vai resolver com algumas contratações. Essa parte procuraremos fazê-la garantidamente de forma a que libertemos mais disponibilidade afetiva e emocional das equipas para se dedicarem à reorganização e se manterem”, disse Marta Temido.
A governante, que falava aos jornalistas à margem de uma visita à unidade de cuidados intensivos do Centro Hospitalar Universitário de São João (CHUSJ), respondia a perguntas sobre a necessidade de fixar e captar médicos para os serviços de urgência, bem como para os cuidados de saúde primários, uma situação que tem vindo a ser descrita como preocupante pelos especialistas destas áreas.
“Isso [referindo-se aos serviços de urgência] é a ponta do iceberg visível destas disfuncionalidades e que muito mais vezes do que gostaríamos dão azo a notícias por todo o país sobre serviços que deixam de ter escala completa para responder às necessidades. Isso está identificado”, referiu.
Questionada como pretende o Governo captar médicos para trabalhar no Serviço Nacional de Saúde, numa altura em que dados recentes apontam para a saída, por aposentação, de cerca de 1.000 profissionais, bem como de quase uma centena para o estrangeiro, Marta Temido falou no programa Dedicação Plena, e usou palavras como motivação e incentivos, mas sem especificar medidas concretas.
“Oferecendo-lhes melhores condições de trabalho. A questão da dedicação plena é um projeto, um desafio”, referiu.
Marta Temido procurou salvaguardar que “para os 88 médicos” que, disse, “terão saído [para outros países] segundo os números divulgados de projetos para a emigração”, desde o início do ano foram contratados 362 médicos especialistas.
Quanto aos médicos de família, a governante quis explicar que os 1.000 divulgados correspondem aos que estão a chegar à idade de reforma, mas “nem todos exercem esse direito”.
“Temos cerca de 300 médicos de família que continuaram a trabalhar para além da aposentação. O número de pessoas sem médico de família é o mesmo desde 2015. O problema de não atribuição de médicos de família não é um exclusivo do sistema de saúde português. Não é fácil captar médicos em outros países”, apontou.
Ainda sobre os cuidados de saúde primários, Marta Temido referiu que “o plano é diversificar a resposta da equipa”, acrescentando outros técnicos, bem como psicólogos e nutricionistas e sublinhou que a cobertura em enfermeiro de família passou de 69% em 2015 para 85% em 2021.
“Sim temos carências, mas nem todas as tendências são negativas”, resumiu.
Na quinta-feira, o diretor da Unidade Autónoma de Gestão de Urgência e Medicina Intensiva do CHUSJ revelou à Lusa que vai implementar “nos próximos meses” um “plano de sobrevivência” para garantir o funcionamento do serviço de urgência.
Nelson Pereira revelou que da chamada “equipa dedicada do serviço de urgência” criada em 2003, restam 13 ou 14 médicos.
“Começou com 40. Só nos últimos dois anos perdemos oito médicos”, contou.
Sobre a situação nos cuidados de saúde primários, um dos casos mais falados recentemente é o do distrito de Bragança onde o número de utentes sem médico de família duplicou nos primeiros três meses deste ano, com 9.713 pessoas sem um clínico atribuído nos centros de saúde, segundo dados do Governo.