João Luís Sequeira Rodrigues nasceu em Vila Real, em junho de 1966. É licenciado em Filosofia, pela Faculdade de Filosofia de Braga da Universidade Católica Portuguesa, e mestre em Cultura Portuguesa pela Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro. É professor de Filosofia no ensino secundário e atualmente, é diretor do Espaço Miguel Torga, localizado em São Martinho de Anta, Sabrosa
Porque é que decidiu dedicar um espaço a Miguel Torga?
Não fui eu que decidi, a decisão de criar um espaço dedicado a Miguel Torga foi de um anterior presidente de Câmara de Sabrosa, bem como de outras personalidades que conhecem bem o Douro e Trás-os-Montes e que reconheceram a importância da obra da personalidade de Miguel Torga e do impacto que ela tinha na cultura nacional, quer do ponto de vista literário, quer do ponto de vista cívico e decidiram, de alguma forma, criar um centro interpretativo da sua vida e obra. Porque, desde há muitos anos, que vinha muita gente a São Martinho da Anta, de todos os lugares do país inclusive do estrangeiro para ver algo ligado ao escritor, saber onde vivia, onde eram os lugares sobre os quais Miguel Torga escreveu e, portanto, havia um número significativo de pessoas que vinham aqui e não havia um espaço de acolhimento. E é também um potencial significativo, de todos os pontos de vista, quer cultural, quer económico. Logo, decidiram construir este espaço, uma obra de um dos mais prestigiados arquitetos portugueses, Eduardo Souto de Moura.
Quais foram os objetivos que se pretendiam alcançar com a abertura deste espaço?
Os objetivos são de várias ordens. O primeiro, claramente, era homenagear, prestar um tributo a Miguel Torga, que é o homem que projetou toda esta terra para o mundo inteiro. Temos que ter a noção que a obra de Miguel Torga está traduzida em quase todas as línguas, as mais faladas em todo o mundo, temos obras traduzidas para espanhol, francês, inglês, mandarim, cirílico, grego e japonês. Portanto, há obras de Torga praticamente acessíveis a quase todos os cidadãos deste planeta. E foi um autor que sempre falou desta terra, projetou-nos para o mundo. O primeiro dos objetivos foi esse, o de prestar uma homenagem a Miguel Torga, que chamou a esta terra o Reino Maravilhoso. O outro objetivo era, de alguma forma, criar um espaço de acolhimento para todas essas pessoas que, como eu referi, vinham aqui e não tinham grandes referências. Não havia nada alusivo a Miguel Torga em São Martinho de Anta que pudesse congregar essas pessoas e dar-lhe condições de serem acolhidas. Por outro lado, há outros objetivos que são importantes e que este espaço pretende também concretizar. Pretende-se que este seja também um espaço de projeção do território, queremos que as pessoas conheçam o território de Trás dos Montes e o território do Douro e o melhor guia turístico que temos é o Torga, ninguém falou dos lugares desta terra tão bem como ele. Por fim, um objetivo fundamental, que também tentamos concretizar através da programação, é que este seja um polo de dinamização cultural do território.
Qual é a programação cultural para o futuro em termos de exposições ou artistas?
Vamos dar continuidade àquilo que é a programação regular deste espaço. Contempla eventos na área do conto, do teatro e, por exemplo, temos uma parceria com um grupo de teatro de Vila Real que é a “Peripécia Teatro”, que encena contos de autores transmontanos e durienses, entre os quais o Torga. Portanto, esses contos são encenados, circulam por todo o território do concelho. É um evento que se chama “Conto Contigo”, que são sessões de contos que nós levamos a cabo, tanto aqui no Espaço Miguel Torga, como pelas freguesias do Concelho. Temos também um ciclo ligado à música, que é as “Novas Canções da Montanha”, que é um ciclo ligado a agentes culturais aqui da região, onde proporcionamos, quatro vezes por ano, quatro concertos com grupos da nova música portuguesa, que se caracterizam pela importância dada ao texto. Portanto, são projetos musicais nas quais a componente da letra, do texto, seja fundamental. Por outro lado, temos outro ciclo dedicado à poesia que é os “Solstícios e Equinócios”, um conjunto de recitais poéticos que levamos a cabo sempre que muda a estação do ano. Temos, ainda, também o Festival Literário do Douro, que acontece sempre no final da primeira semana de maio. Há outro ciclo que se vai iniciar, “Cinco vezes Ciência” que é um conjunto de palestras dedicadas ao conhecimento, em que nós levamos a cabo conferências sobre os mais variados temas ligados à ciência. Para além desta programação regular, fazemos o acolhimento de todos os visitantes que aqui vêm.
Em média, quantas pessoas visitam este espaço?
Recebemos cerca de 8000 visitantes por ano. Portanto, há que ter em conta quem vem aqui, vem porque quer. Pois é um lugar que está fora de mão, até mais mentalmente do que fisicamente. Porque hoje, com as autoestradas tudo se aproximou. Quer dizer, o Porto está a mais ou menos uma hora. Lisboa está até pouco mais de 3 horas. No entanto, o estigma de ir a Trás-os-Montes ou ir ao Douro continua a existir, até é maior na mentalidade das pessoas no que é fisicamente. Quem vem aqui é porque tem mesmo vontade de cá vir. É um número interessante. Aproveito a oportunidade para divulgar junto do público local que o Espaço é gratuito. Temos muito gosto em recebê-los, porque precisa de ser divulgado não apenas a nível nacional, mas também a nível local.
Conteúdo produzido pelo Agrupamento de Escolas Miguel Torga