Terça-feira, 14 de Janeiro de 2025
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“O nosso objetivo sempre foi devolver o clube às ligas profissionais”

Entrevista a Bruno Carvalho, presidente do GD Chaves.

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O GD Chaves comemorou, a 27 de setembro, 75 anos. Nesta efeméride importante, como é que olha para o percurso do clube?

Até aos anos 80, o clube foi-se afirmando na região. A partir daí tivemos a primeira subida à I divisão e participação nas competições europeias. Na década de 90, entre altos e baixos, houve outra subida à I Liga.

Em 2011, o clube atravessou a sua fase mais negra, na medida em que poderia ter desaparecido. Atendendo às dívidas que se acumulavam, foi decretado insolvente, e numa iniciativa encabeçada pelo meu pai, o senhor Francisco Carvalho, uma série de sócios, sabendo da ajuda que ele prestava ao clube, desafiaram-no para criar um projeto que pudesse evitar a extinção do Grupo Desportivo de Chaves.

Foi possível, a partir daí, começar um projeto ambicioso, com o objetivo de voltar a colocar o Chaves na I Liga, algo que conseguimos concretizar em 2016.

O nosso principal objetivo foi sempre devolver o clube às ligas profissionais, nomeadamente à primeira. E, nesse sentido, tenho de destacar estes anos em que estamos à frente do clube enquanto órgãos sociais, não esquecendo, naturalmente, a brilhante década de 80. Outra página de ouro da história do clube foi a participação na final da Taça de Portugal.

Já referiu as dificuldades financeiras em 2011. Qual é a situação atual do clube a esse nível?

Parte das dívidas eram a credores, mas também ao fisco e à segurança social. A dívida enorme que tinha era de quase 2 milhões de euros e, atualmente, temos o clube sem qualquer dívida, nem ao fisco, nem à segurança social.

Aquilo de que muito nos orgulhamos é que, em 10 anos, conseguimos pagar a todos os credores. Isso acabou em 2021, todo o plano [de insolvência] foi integralmente cumprido.
E, a partir daí, em termos contabilísticos, o resultado líquido do exercício contabilístico é sempre positivo, a cada ano. O que nos permite aceder a subsídios de entidades públicas, como o município e IPDJ.

De momento, o clube tem uma vida facilitada, nesse sentido, porque tem as contas em dia e não deve nada a ninguém.

E como tem sido estar à frente do clube nesta situação?

Nos dois primeiros anos, éramos uma comissão administrativa e, a partir daí, criámos uma direção. Quando conseguimos subir à II Liga, criámos também uma Sociedade Anónima Desportiva (SAD) para gerir o futebol profissional, da qual é presidente o Francisco José Carvalho, meu irmão.

Tentámos sempre perseguir o nosso grande objetivo, chegar à I Liga. Poderíamos ter chegado à I Liga e dizer ‘ok, nós já chegámos aqui, agora outras pessoas que queiram candidatar-se podem fazê-lo’.

Houve vários atos eleitorais, nomeadamente para a direção do clube, e nunca ninguém apresentou uma lista alternativa, o que pode ter inúmeras interpretações. A leitura que nós fazemos é que as pessoas acabam por confiar nos nossos propósitos.

Uns anos conseguimos concretizar os objetivos a que nos propomos. Nos anos em que não conseguimos, é natural que fique sempre no ar que queremos fazer melhor. E é isso que nos tem movido, fazer sempre melhor.

Nesta caminhada, o Chaves tem tido altos e baixos, subidas e descidas. Na sua opinião, o que seria necessário para estabilizar o clube?

É necessário união de todos. Começando por uma união interna, da estrutura. Com o apoio que tem de ser demonstrado por entidades que colaboram connosco, penso que existindo uma união de esforços, especialmente entre todos aqueles que fazem parte dos órgãos sociais do clube e da SAD, os objetivos concretizam-se mais facilmente. Mas como é evidente, em todas as instituições, há momentos em que, por vezes, desvanece esse ingrediente fundamental e que acaba por prejudicar sempre a concretização dos objetivos.
Ninguém mais do que os elementos da estrutura querem que corra bem. Porque quando não corre bem, não corre bem para ninguém. A melhor postura quando não se concretiza um objetivo é redimirmo-nos dessas falhas e tentarmos outra vez.

Eu creio que o objetivo da SAD é devolver a equipa principal à I Liga, mas não é fácil, e a II Liga é, na minha opinião, o campeonato mais competitivo em Portugal.

O clube beneficia muito da subida, porque há mais pessoas a tornarem-se sócias, a pagarem quotas e mais gente no estádio, e aqui em Chaves nota-se muito. Isso afeta-nos, porque a receita é relevante para ter todos os escalões nas várias modalidades.

Costumo dizer que não é o Futebol Clube de Chaves, é o Grupo Desportivo de Chaves, e que deve ser um clube eclético, contribuir para a manutenção de hábitos de vida saudável e incutir nos jovens a importância do exercício físico. Essa é a nossa missão.

Essa é uma aposta que tem crescido?

Sim, quando chegámos ao clube em 2011, só tínhamos futebol.

Voltámos a ter futsal feminino e tivemos o Chaves no Campeonato Nacional da 1ª Divisão por seis anos. Já tivemos andebol, voleibol, judo e futebol de praia, do qual fomos campeões nacionais há 2 anos.

Nas várias modalidades, conseguimos abranger entre 300 a 350 jovens. Esta temporada, provavelmente, vamos ultrapassar esse número, porque criámos o futsal também. Mas o nosso objetivo será formar.

Atualmente quantos sócios tem o GD Chaves?

Cerca de 3.500 sócios, nem todos pagantes. Nos cartões de sócio temos até ao número 6.400 e pouco, mas é enganador. No próximo ano vamos fazer a renumeração, em que vão ser demitidos todos aqueles que durante duas temporadas não efetuaram o pagamento, vamos dar um tempo para as pessoas regularizarem.

Considera que o clube é acarinhado e os adeptos o acompanham?

Eu vejo um carinho enorme pelo nome Grupo Desportivo de Chaves. Nem todas as pessoas conseguem fazer esta interpretação do que é a atividade do clube e a atividade da equipa principal, gerida pela SAD. Há um descontentamento que existe naturalmente pelo facto de termos descido. Temos aquele grupo de sócios que vão acompanhar sempre a equipa, quer esteja na I, na II ou seja onde for, que também é significativo. Mas, hoje em dia, as pessoas não vivem presas ao passado e querem resultados.

O GD Chaves sempre foi um embaixador de Trás-os-Montes. Isso traz uma responsabilidade acrescida?

É, efetivamente. Porque se olharmos para o mapa de Portugal, os emblemas dos clubes da I e II Liga estão na maioria no litoral. Sendo o Chaves o único clube transmontano nas ligas profissionais, tem essa responsabilidade. E beneficia desse estatuto porque temos sócios de outras cidades de Trás-os-Montes, muitas pessoas que visitam o nosso estádio, e não é só quando vêm as equipas “grandes”. Claro que as rivalidades existem, é natural, mas na altura de reconhecer, efetivamente, o estatuto de representação de Trás-os-Montes, o Chaves assume isso, e por isso, é que esse sentimento e essa responsabilidade é acrescida e nos estimula.

Sendo um clube que está no interior, que dificuldades enfrenta?

Uma das principais receitas que um clube pode ter é a publicidade e patrocínios, e o tecido empresarial na cidade de Chaves não é tão significativo como em cidades da área metropolitana do Porto ou de Lisboa.

No concelho existem pequenas e médias empresas, aquelas que podem, dão o seu contributo e nós agradecemos muito. Mas, naturalmente, os apoios publicitários não são os mesmos que noutros contextos e isso acaba por não ajudar. Um clube como o Chaves, que tem várias modalidades, vive também das obrigações para com a Federação Portuguesa de Futebol (FPF) e tem de ter uma certificação. O processo tem pontos que dão créditos até um máximo de 100 e nós normalmente estamos no 78, 79. Já tivemos mais, mas cada vez se torna mais difícil, porque a FPF aperta a exigência. Por exemplo, um dos critérios que daria mais pontos era a criação de uma equipa de futebol feminino. Mas num concelho com cerca de 50 mil habitantes, teríamos que ter 15 a 20 jovens, mais ou menos da mesma idade, para conseguirmos ter uma equipa, o que é difícil. O recrutamento de pessoas que estejam habilitadas para serem treinadoras de futebol também nos limita.

Não tem nada a ver com a realidade de Guimarães, Famalicão, de Paços de Ferreira. Portanto, não temos as possibilidades que outros clubes têm.

É também mais difícil atrair atletas?

Claro que sim. Há alguns que vão aparecendo, e que os nossos treinadores também consideram que vale a pena trazer.

Ajudamos da maneira que podemos aqueles que venham de cidades ou concelhos próximos. Mas será muito mais difícil do que em aglomerados populacionais maiores, onde a oferta também é maior.

Há algum projeto ou investimento que seja necessário para o clube nos próximos anos?

Sem dúvida. Há dois projetos importantes já concretizados, que definimos logo em 2011. A remodelação do estádio municipal, com a construção da bancada nova, e a construção do complexo desportivo, batizado com o nome do meu pai.

De futuro, aquilo que já manifestamos ao município é a necessidade de manutenção ou substituição do relvado sintético do campo que faz parte do estádio municipal.

Este espaço é-nos cedido através do contrato Programa de Desenvolvimento Desportivo, mas a entidade responsável por toda a infraestrutura é o município, e temos chamado sempre a atenção para a sua melhoria.

O que espera para o futuro do clube? Onde é que gostava de ver o GD Chaves nos próximos anos?

Gostava de continuar a desenvolver a formação, com ainda mais qualidade, mais resultados e mais modalidades. E gostava, naturalmente, que a SAD conseguisse voltar a ter equipa na I Liga. Penso que isso mais tarde ou mais cedo vai acontecer, mas leva o seu tempo.

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