Segunda-feira, 2 de Dezembro de 2024
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António Martinho
António Martinho
VISTO DO MARÃO | Ex-Governador Civil, Ex-Deputado, Presidente da Assembleia da Freguesia de Vila Real

O risco de tombar é real

Estamos a viver o momento que não se imaginava chegaria tão depressa.

Sim, pode ter a ver com as alterações climáticas que, de tempos a tempos e cada vez com mais frequência, nos trazem surpresas desagradáveis. Algumas, bem prejudiciais para as comunidades locais. O momento que dá título a este meu Visto não é esse. É outro, que a comunicação social nos traz todos os dias, muitas vezes na 1ª página, aliás, correndo o risco de banalizar a sua gravidade, o de assistirmos, um risco cada vez mais real, ao tombar do barco que é Portugal, e de, catrapum, virar de pernas para o ar, permitindo, então, que as águas que sobem com o degelo dos glaciares nos inundem de tal modo que já não sejamos capazes de o equilibrar.

Há trinta/trinta e cinco anos, quando se alertava para as consequências de uma estratégia de desenvolvimento direcionada quase só para as cidades, com o argumento de que criar cidades que se tornassem motores de desenvolvimento era essencial para a competitividade do país, ninguém, ou muito poucos escutavam os que ousavam discordar.

Nem sequer os ouviam. Estávamos fora do “nosso” tempo. E foi o que se viu – investir nas cidades que se situam de Braga-Viana do Castelo até Setúbal. Não se estranhe, pois, que os problemas que nos afligem se sintam com maior acuidade nessa faixa do país. Na habitação, na saúde, na educação. A população foi orientada no sentido dos investimentos. Agora, faltam infraestruturas, faltam casas, falta pessoal para trabalhar na saúde e na educação. Não faltariam tantos se não tivesse sido imposto o “numerus clausus”, é verdade. Os problemas seriam de menor gravidade. Mas se as opções de desenvolvimento perseguissem um país mais harmoniosamente desenvolvido, as assimetrias não se fariam sentir de modo tão acentuado. O barco continuaria no seu rumo, sem sustos.

Ainda se vai a tempo?! Não consigo esconder o receio. Com um Presidente da República antirregionalista e alguns líderes da área a seguir nesse sentido, com a pecha nacional de que o que não é Lisboa e, agora, Porto não interessa ao todo nacional, com as dificuldades que alguns autarcas têm colocado ao programa de descentralização, enfim, se continuarmos a não distribuir a carga do barco, o investimento, uniformemente, para maior estabilidade, ele não aguentará! Não haverá Mestre Patrão que o segure e vira mesmo.

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