Sexta-feira, 26 de Julho de 2024
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Povo sai à rua, em defesa das “Urgências”

Cerca de quatro mil pessoas, oriundas dos concelhos de Chaves, Vila Pouca de Aguiar, Ribeira de Pena, Montalegre, Valpaços e Boticas, manifestaram-se, ontem, junto à Fronteira de Vila Verde da Raia, contra o encerramento dos Serviços de Urgência do Centro de Saúde de Vila Pouca de Aguiar e a deslocalização de algumas valências do Hospital […]

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Cerca de quatro mil pessoas, oriundas dos concelhos de Chaves, Vila Pouca de Aguiar, Ribeira de Pena, Montalegre, Valpaços e Boticas, manifestaram-se, ontem, junto à Fronteira de Vila Verde da Raia, contra o encerramento dos Serviços de Urgência do Centro de Saúde de Vila Pouca de Aguiar e a deslocalização de algumas valências do Hospital Distrital de Chaves.

 

Foi, sem dúvida, a maior manifestação, realizada no país, nesta autêntica “cruzada” contra as intenções do Ministro Correia de Campos em “reorganizar”, a nível nacional, a Rede de Serviços de Urgência das unidades hospitalares. Nesta concentração, estiveram presentes cinco Presidentes das Câmaras Municipais do Alto Tâmega: Agostinho Pinto (Ribeira de Pena), Fernando Rodrigues (Montalegre), Francisco Tavares (Valpaços), João Batista (Chaves), Domingos Dias (Vila Pouca de Aguiar) e alguns vereadores da Câmara Municipal de Boticas.

 

“O Governo tem de ouvir as populações”

 

O auge da concentração foi atingido, pelas 13 horas, quando confluíram todas as caravanas automóveis. A EN 2 e A24 estiveram cortadas ao trânsito, nos dois sentidos, dada a dimensão da manifestação que decorreu de forma pacífica e sem incidentes.

Em Vila Pouca de Aguiar, cerca de duas mil pessoas concentraram-se, a partir das 10 horas, junto ao Centro de Saúde local (de portas abertas), empunhando cartazes e proferindo palavras de ordem. Depois, em marcha lenta, dirigiram-se, pela EN 2, até Chaves, seguindo, pela A24, até à fronteira. Entre os manifestantes, estava Domingos Dias, Presidente da autarquia aguiarense e da Associação de Municípios do Alto Tâmega.

Em declarações ao Nosso Jornal, o edil manifestou a sua solidariedade para com a população do concelho e foi particularmente crítico para o titular da pasta da Saúde, Correia de Campos.

“Os milhares de pessoas que estiveram presentes mostraram a indignação que sentem por mais esta discriminação negativa que nos querem fazer. Com certeza que não vai ser de ânimo leve que o nosso Centro de Saúde vai ver a urgência encerrada. E o senhor Ministro da Saúde terá que repensar bem a posição que quer tomar. Isto é um grande prejuízo, para Trás-os-Montes e para a população do concelho de Vila Pouca de Aguiar. Está em causa o direito fundamental dos cidadãos à saúde, um direito que nos querem tirar e de que nós não abdicaremos, facilmente”. O autarca defendeu que “o Governo tem de ouvir as populações. Quando se verifica que as não ouve, algo está mal, neste país. Tivemos aqui milhares de pessoas que, independentemente das suas cores partidárias, comungam das mesmas preocupações e, a uma só voz, partilham um só desejo: a manutenção do Serviço de Urgência no Centro de Vila Pouca de Aguiar. O direito à saúde deve ser mantida” – acrescentou. Segundo Domingos Dias, “o objectivo foi alertar o senhor Ministro para o facto de estar com o Relatório Técnico errado nas mãos e ter de tomar uma decisiva opção política que tem de vir ao encontro das populações. Política é moral e moral é saber fazer, em prol dos mais desfavorecidos, opções que possam manter a sua qualidade de vida. E Trás-os-Montes precisa de qualidade de vida, também, na Saúde. O senhor Ministro, na decisão que vai tomar, terá que ter em atenção esta realidade” – sublinhou.

 

“Encerramento da Urgência aguiarense penaliza os habitantes de Ribeira de Pena”

 

Quanto aos contactos com o Governo, Domingos Dias fez-nos o ponto da situação:

“Já tivemos uma audiência com a senhora Secretária de Estado Adjunta da Saúde, no âmbito da discussão pública do suposto encerramento da reorganização da Rede de Urgências. Não foram atendidos os nossos argumentos. Pedimos uma reunião com o senhor Ministro da Saúde, há mais de dez dias. Aguardamos que ele marque essa audiência, com a mesma celeridade com que marcou para o meu colega de Vila do Conde. Espero, também, que tenha o mesmo procedimento para os autarcas do Alto Tâmega. Esperamos que ele, acima de tudo, ouça as nossas razões que são a justiça e a verdade”.

Domingos Dias abordou a sua presença, na manifestação: “Como Presidente da Câmara, associo-me à população do meu concelho e estou com ela. Foi organizada pelo povo e por uma Comissão de Acompanhamento que foi criada, pela Assembleia Municipal, dela fazendo parte todos os partidos”.

Um dos concelhos que fica penalizado com esta “reforma na saúde” é o de Ribeira de Pena.

O Presidente da autarquia ribeirapenense, Agostinho Pinto, contou, ao Nosso Jornal, que “com o fim da Urgência de Vila Pouca de Aguiar, a população terá de se deslocar a Vila Real, o que representa mais de uma hora de viagem e mais quarenta quilómetros. Temos cerca de 8 mil habitantes e, destes, sessenta por cento são idosos, a necessitar de cuidados de saúde. Neste momento, o Centro de Saúde de Vila Pouca de Aguiar é a unidade a que recorremos, em caso de emergência médica nocturna. O encerramento deste serviço seria, obviamente, muito prejudicial, para a nossa população”.

 

“Os Serviços de Saúde são a coisa que mais falta faz ao pessoal”

 

A “Voz de Trás-os-Montes” recolheu algumas opiniões de utentes do Centro de Saúde de Vila Pouca de Aguiar que acorreram à manifestação. Maria de Jesus, de 68 anos, residente em Vila Meã, foi uma delas: “Isto é uma vergonha. Que há-de ser da minha vida, doente como eu sou? Até agora, ia de carreira, até ao Centro de Saúde. Agora, não quero ir para Vila Real ou para Valpaços. Não tenho dinheiro para transportes. Mesmo o burrito que tenho tem uma pata partida”. Maximina Monteiro, outra utente, manifestou, também, o seu desagrado: “Não estou nada contente. Para irmos para Vila Real, acho uma coisa má. Resido em Soutelo de Aguiar e para quem não tiver transportes ainda será pior. Para um pobre que não tenha nada, será um drama. Há muita gente idosa que não pode e que terá muitas dificuldades. Está tudo mau, assim. O povo de Soutelo de Aguiar está todo contra”. Maria Adelaide Marques, residente em Vila Pouca de Aguiar: “Os serviços de saúde são a coisa que mais falta faz ao pessoal. O mais importante. Será muito complicado, se acabarem com eles. Há dois anos, um cunhado meu que me veio visitar teve um enfarte. Se não estivesse aberta a Urgência de Vila Pouca de Aguiar, ele teria morrido. Quando chegasse a Vila Real, estaria morto. Conforme aconteceu com ele, pode acontecer com outros, especialmente aquelas pessoas que moram afastadas, nas aldeias mais distantes e com maus acessos. É o pior que nos pode acontecer, se nos tirarem as Urgências. Será péssimo”.

Entretanto, a Administração Regional de Saúde do Norte (ARS-N) garante que a Urgência hospitalar de Chaves só será desclassificada de Médico-Cirúrgica para Básica quando o concelho tiver bons acessos.

“Quando Chaves tiver as suas acessibilidades garantidas, aí, sim, as decisões terão de ser implementadas. Até lá, a Urgência vai continuar a funcionar tal como está, hoje” – disse o Presidente da ARS-N, Maciel Barbosa.

 

José Manuel Cardoso




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