Utilizando uma linguagem adequada à quadra que atravessamos, o Pai Natal pôs no sapatinho da Cultura, deste País, o Espaço Miguel Torga. A “prenda” foi colocada num lugar privilegiado em S. Martinho de Anta, ou seja, próxima do berço do escritor. Na realidade, foi dado o passo decisivo para que o equipamento seja construído. Momento marcante em que o Primeiro-Ministro fez questão de estar presente.
O Presidente da Câmara Municipal de Sabrosa, José Marques, agradeceu a infra-estrutura em nome da freguesia, do concelho e da região. “Graças ao empenho e articulação com o Governo Central, num projecto comum, foi possível lançarmos a primeira pedra assinalando o arranque da edificação de uma estrutura física de excelência que acolhe um ambicioso projecto: o Espaço Miguel Torga. Será um equipamento cultural estruturante para a região, mas sobretudo para o Concelho de Sabrosa e em particular para a vila de S. Martinho de Anta. Queremos que este equipamento possa funcionar como espaço de referência artística, a começar pela arquitectura”.
Na presença de meio milhar de pessoas, o autarca elogiou o projecto e o seu autor, Souto de Moura. “Possui elevadíssima qualidade e faz um apelo íntimo de ligação à terra. O Arquitecto/artista soube compreender e interpretar a homenagem que o edifício representa”.
José Marques não esqueceu “Magalhães” e realçou a sua futura articulação com um outro equipamento. “A este projecto associaremos um outro, outro nome e outra figura ilustre que se vai articular naturalmente: Fernão Magalhães, sobre o qual Torga também muito escreveu, designando-o como seu conterrâneo e patriarca da conquista espacial da liberdade. Possuímos sinais claros de que este concelho está a mexer e a ser dotado de um conjunto de recursos estruturantes para o sucesso dos seus projectos de investimento, como sejam o Projecto Espaço Miguel Torga e o Projecto Fernão Magalhães. Mas, sobretudo, o projecto de ligação da variante de S. Martinho de Anta ao IP4, o qual aguardamos ansiosamente a adjudicação”.
O edil concluiu a sua intervenção agradecendo à filha do escritor. “Agradeço o envolvimento e a cumplicidade da filha do poeta, professora Clara Crabbé Rocha, que desde a primeira hora tem constituído um grande estímulo, garante adicional de adequação do espaço e dos seus conteúdos”. Numa carta, a filha do homenageado alegou a sua ausência devido a uma doença, mas desejou que o Espaço Miguel Torga “seja, no futuro, não apenas um digno lugar de homenagem à obra do poeta, mas também um importante pólo cultural na região, em articulação com os espaços de memória ligados aos maiores nomes da Literatura Portuguesa, como Camilo Castelo Branco e Eça de Queirós”.
O Ministro da Cultura, José Pinto Ribeiro, na sua intervenção fez vincar a envolvência do equipamento. “Quando o projecto estiver concluído, a tarefa passa por invadir o espaço que é vosso”.
José Sócrates no seu discurso realçou as suas origens. “Sou daqui, aprendi pela primeira vez a gostar da palavra fraga com o Miguel Torga. Cada vez que oiço um verso de Miguel Torga fico sempre com a sensação de quem regressou a casa, porque quando atravessava, com o meu pai, as montanhas durienses e ele me falava das fragas, sempre achei que isso era vir ao campo e era para mim era uma maçada. Verdadeiramente, comecei a sentir a beleza da fraga quando li os versos de Miguel Torga”.
José Sócrates considerou que o Espaço Miguel Torga para além de homenagear o génio do poeta, “pretende evocar o homem, o carácter e a rectidão de Torga”. “O Espaço pretende ser uma oferta cultural, não apenas de S. Martinho de Anta, mas integrada numa rede cultural de Trás–os-Montes”. O chefe do governo garantiu apoio para a nova casa. “Assumo, como Primeiro-ministro, que o governo apoiará a Câmara de Sabrosa na construção deste projecto”.
O Espaço Miguel Torga será revestido a xisto basáltico, oriundo de Vila Nova Foz de Côa, e terá a aparência de muros vinhateiros.