Estamos a poucos dias da data do II referendo sobre o aborto. E é interessante verificar que estamos perante uma mobilização organizada, possivelmente a maior mobilização de leigos, desde os tempos da Acção Católica. E, desta vez, por uma causa simples e concreta da vida. E estamos a perguntar ao povo, pela segunda vez – a primeira foi em 1998 – em que se pronunciou pelo NÃO. “Tivera dito SIM, nessa altura, e ficaria o caso aferrolhado, pelos zelotas do direito e de alguma esquerda que ainda não percebeu em que país vivemos. Haja paciência, para uma democracia assim!”, comenta António Rego que continua: “Arrastando bizarrias de alto risco, disparates incomensuráveis, ignorâncias arrogantes e, ao mesmo tempo, reflexões muito sensatas, corre o rio da nossa pequena história, em direcção ao referendo do dia 11 de Fevereiro. E, cumpre dizer, tem águas muito saudáveis, intervenções inteligentes e debates enriquecedores para o tempo comum da democracia”.
Oficialmente, a Igreja reafirma a sua inequívoca posição pelo NÃO, na pergunta que é feita no referendo. Mas cada diocese, bispo, paróquia ou movimento, assume os seus dinamismos sem agressão e com respeito por aqueles, mesmo cristãos, que enveredam por outro caminho. Os presidentes das assembleias litúrgicas não deixarão de apresentar a doutrina da Igreja sobre o respeito pela vida. É um grave dever do seu ministério sacerdotal, de cidadania e de promotor do direito natural à vida e de cumprimento do 5º mandamento: “NÃO MATAR”.
Na homilia da Peregrinação mensal de Janeiro 2007, no Santuário de Fátima, D. António Marto, Bispo de Leiria-Fátima, reiterou a classificação do aborto “como chaga social” e sublinhou os paradoxos da sociedade actual.
“Verificamos com satisfação que aumenta a sensibilidade em relação à protecção das crianças, às condições dignas da maternidade, à igualdade de todos os seres humanos, à defesa e protecção do meio ambiente. Também cresce em todo o mundo a rejeição da pena de morte e da tortura. Mas, paradoxalmente, assistimos à banalização crescente do aborto que provoca a morte silenciosa de um ser humano silencioso, indefeso e inocente”, disse.
“O fenómeno do aborto como chaga social é sintoma de um mal-estar mais profundo de cultura e de civilização, da própria sociedade. Alastra uma visão materialista que reduz o conceito da vida humana a um mero produto ou material biológico; e uma visão pragmático-utilitarista que remete por completo a sensibilidade moral para as fronteiras dos custos, do bem-estar, do conforto etc. E, então, a nossa sociedade torna-se simultaneamente frágil (face aos problemas da vida) e “dura” (nas soluções drásticas) em função da lógica utilitarista e competitiva”.
“Não ignoramos, nem podemos ignorar que, muitas vezes, a decisão de abortar é fruto de grandes sofrimentos e angústias (sem excluir as pressões), que é um verdadeiro drama para muitas mulheres. Mas pensamos que a um drama não se responde com outro drama: o de destruir uma vida humana que desabrocha e que é o elo mais fraco em todo este processo. A resposta verdadeiramente humana e humanista a este drama é um projecto solidário e galvanizador de todos os recursos da sociedade civil e do Estado, para oferecer todo o cuidado, acolhimento e protecção de ordem social, económica e psicológica tanto ao filho em gestação como à mãe que o gera. Não podemos considerar um sem o outro; e, muito menos pôr um contra o outro. A liberalização do aborto, embora disfarçada sob a forma jurídica de despenalização, não é a resposta digna e condigna. É uma fuga em frente, para não atacar o problema nas suas raízes. Não é caminho de progresso, de futuro e de liberdade”, disse o prelado.
Na diocese da Guarda, o seu bispo D. Manuel Felício lançou um claro apelo pelo voto no “Não”, aquando do próximo referendo ao aborto.
Felicitamos todos os movimentos e todas as vozes que se movimentam em favor da vida, do futuro da civilização, do progresso, do humanismo, do futuro da humanidade, da dignidade da pessoa, do respeito pela vida humana, em todos os seus momentos, como dever imposto pela lei natural e universal, base da exigência ética e da cultura. O voto no NÃO, segundo o Cardeal Patriarca, D. José Policarpo, deve ser claro para todos os católicos.
Armando Soares