Mas, afinal, o que é isto de insucesso escolar? De um modo geral, acontece quando o aluno não atinge os objetivos propostos e, como consequência, fica em risco de chumbar. Nos últimos anos, de forma a combater este fenómeno, há equipas que trabalham para identificar as causas para o insucesso dos estudantes, sendo que cada caso é um caso.
Em Alfândega da Fé, por exemplo, há uma equipa multidisciplinar que está no terreno, desde 2018, no âmbito de uma candidatura ao abrigo do Portugal 2020.
Miguel Franco, vereador da autarquia, explicou, à VTM, que “desde o início que envolvemos o Agrupamento de Escolas no projeto, para ser feito um diagnóstico da realidade do nosso concelho e, dessa forma, justificarmos a submissão da candidatura”.
Questionado sobre os resultados do diagnóstico realizado, o vereador destaca, como principais causas ao abandono escolar, “problemas no seio familiar, como violência doméstica ou situações de negligência, ou alunos de comunidades de etnia cigana ou búlgaros, que existem no concelho, que por força das funções dessas famílias, a nível sazonal, não conseguiam estar aqui durante todo o ano letivo, levando a uma elevada taxa de abandono ou insucesso escolar”.
Mas há outros motivos, como “a ausência de oferta de atividades que despertem a curiosidade e o talento dos jovens”, bem como a nível das novas tecnologias, verificando-se que, “no agrupamento, mesmo por parte dos professores, havia uma certa dificuldade no domínio das mesmas”.
Depois de identificados os problemas, atuou-se em duas vertentes, “por um lado, a criação de uma equipa multidisciplinar, com um orçamento de 280 mil euros e, por outro, com uma candidatura para atividades extracurriculares, com um orçamento a rondar os 80 mil euros”, refere Miguel Franco.
E os resultados não podiam ser mais satisfatórios. “No final do primeiro ano, notámos melhorias, tanto a nível do insucesso escolar como no abandono”, confessa.
Simone Amaral é técnica superior e responsável pelo Plano Integrado e Inovador de Combate ao Insucesso Escolar (PIICIE) de Alfândega da Fé e foi ela quem avançou os números do programa. “No ano letivo 2017/18 estávamos com uma taxa de retenção de 4,6% no ensino básico e de 11,8% no ensino superior. Em 2019/20 os números baixaram para 1,6 e 2,4 por cento, respetivamente”, acrescentando que “uma das metas a alcançar era reduzir o número de alunos com níveis negativos em pelo menos 10%, algo que conseguimos cumprir, tendo em conta que em 2017/18 havia 63 alunos com pelo menos uma negativa no Agrupamento e em 2019/20, esse número passou para 35”.
Para chegar até aqui, o PIICIE desenvolveu uma série de atividades, direcionadas tanto
para alunos como professores e também para pais e encarregados de educação. Simone Amaral destaca, por exemplo, “workshops sobre como comunicar com adolescentes, ações no âmbito do bulling, de forma a preveni-lo e identificar sinais de alerta, sessões de testemunho de profissionais de sucesso para os alunos terem contacto com o mercado de trabalho e motivá-los a estudar, há ainda ações de grupo, com pais dos vários níveis de ensino, no sentido de perceber o que, para eles, poderia funcionar para aumentar o sucesso educativo dos seus educandos”.
Durante a pandemia, estas atividades tiveram de decorrer de forma online e houve, inclusive, a necessidade e acompanhar “27 alunos de forma personalizada e individual, por vários motivos, ou porque os pais não tinham tempo ou porque não tinham competências para os ajudar”, admite a responsável, sublinhando que “durante o primeiro confinamento, e porque nem todas os alunos tinham acesso às novas tecnologias, fomos como que um elo de ligação entre a escola e as famílias, era um leva e traz de fichas”.
O PIICIE vai terminar, no âmbito da candidatura ao Portugal 2020, no final deste ano letivo, mas a autarquia, tendo em conta os resultados, está a preparar-se para continuar a ter a equipa no terreno, noutros moldes, “de acordo com as nossas possibilidades, mas claro que, quando vemos resultados positivos, temos vontade de fazer mais e melhor”, conclui Miguel Franco.