Ou melhor: não se ignorava por completo, sabia-se que existia, mas estudava-se pouco este fenómeno. Não existia um esforço e recursos suficientes de quantificação ou de medição do seu impacto nefasto na economia e sociedade. Em parte, porque a análise não é simples, e tipicamente é pouco concreta porque, por definição, a maioria dos casos de corrupção não são descobertos. Repare-se que um dos principais índices de corrupção, o Índice de Perceção de Corrupção da organização Transparency International foi apenas lançado em 1995. Também havia corrupção antes disso, naturalmente, mas não existiam estudos a abordar o problema.
Felizmente hoje é diferente, e a Comissão Europeia tem feito também um esforço de avaliação deste tema. Recentemente, foi lançado mais um estudo da Comissão Europeia, o “Special Eurobarometer 534 – Citizens’ attitudes towards corruption in the EU in 2023”. Neste relatório, destaca-se que 91% dos portugueses acredita que há corrupção nas instituições públicas, de acordo com um inquérito do Eurobarómetro da Comissão Europeia, realizado em abril e maio deste ano. Foram inquiridas 1.021 pessoas em Portugal.
No contexto da União Europeia, Portugal é o 2.º país onde esta percentagem é superior, ou seja, é o 2.º país na UE onde maior parte da população acredita que há corrupção nas instituições públicas. Com menor confiança nas instituições públicas apenas a Grécia (92%).
Por outro lado, é na Finlândia (27%), Dinamarca (43%) e Suécia (51%) que há menos perceção de corrupção, por parte da população, nas instituições públicas nacionais.
Tal como já tivemos oportunidade de abordar noutros artigos, os estudos de perceção de corrupção não perdem valor por serem medidores de perceções e não da realidade. Independentemente da realidade, que é impossível medir com rigor, a perceção já nos dá um indicador fundamental, uma vez que as perceções induzem comportamentos dos agentes económicos. Talvez Portugal não seja o 2.º país mais corrupto da União Europeia – não sabemos – mas esta medalha de prata na perceção de corrupção nas instituições públicas já serve de alerta para a necessidade de termos organismos mais transparentes, com processos mais claros e uma justiça mais eficaz.