Alinho com a preocupação manifestada por alguns economistas, cronistas e agentes sociais relativamente ao jogo social da raspadinha, nos próximos tempos reforçado com a raspadinha do património, que custará um euro, e servirá para financiar o património cultural em Portugal.
O que já se sabe sobre este jogo social deve merecer uma séria reflexão. São os pobres que mais jogam e que perdem dinheiro nos jogos de sorte e azar patrocinados pelo Estado. As famílias mais pobres gastam vinte vezes mais em lotarias do que as mais ricas. Assim sendo, o jogo da raspadinha poderá servir para agravar a pobreza de muitas pessoas e famílias. Os desempregados também procuram estes jogos, o que também pode ser visto como um imposto sobre o desespero. Está mais do que estudado que é um jogo que promove a viciação, porque é livre, é barato e promete resultado imediato, sendo, por isso, muito procurado pelos mais pobres. Há casos de pessoas que estão na miséria por causa das raspadinhas. Suspeita-se que a viciação neste jogo poderá ter números consideráveis em Portugal entre os mais pobres. Recentemente, dois psiquiatras portugueses escreveram um artigo numa prestigiada revista científica, que a Santa Casa de Lisboa lamentou, onde comprovam e manifestam preocupação pelo crescimento exponencial do consumo de raspadinhas.
Temos dados mais do que suficientes para repensar o sentido do jogo e a forma como é oferecido aos cidadãos, introduzindo algumas regras. Socialmente, constatam-se muitas contradições: de que adianta dar apoios sociais às pessoas mais pobres e desfavorecidas, se depois se promovem jogos onde se dedicam a gastar grande parte desses apoios? E como é que um governo de esquerda, que se diz social e de combate à miséria, persiste em fomentar um jogo que está mais do que visto ser fonte de exploração da pobreza e de viciação comportamental? E como não notar alguma perversidade neste jogo pelo facto de ser organizado pela Santa Casa da Misericórdia de Lisboa, que tem como grande missão melhorar a vida dos indigentes e desfavorecidos da sociedade, já sabendo que este jogo contribui para uma maior degradação das condições de vida destas pessoas?
Se o Estado ultimamente tem vindo a assumir abusivamente o papel de educador do cidadão, taxando os produtos gordurosos, açucarados e o tabaco, então também lhe fica bem agir preventivamente e responsavelmente contra um jogo que está a acentuar a pobreza e a contribuir para a desgraça de alguns cidadãos.