Nem mesmo o intenso calor que se fazia sentir, durante a manhã de Sábado, impediu que onze praticantes de Atletismo em Cadeira de Rodas se juntassem, na pista da Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro (UTAD), num treino, onde denunciaram o “mau acompanhamento”, por parte da Associação Nacional de Desporto para Deficientes Motores (ANDDEMOT).
“Só se lembram de nós, em Setembro, na altura em que recebem o dinheiro das inscrições na época”, lamentou Mário Trindade, um dos atletas de cadeira de rodas que acusa a ANDDEMOT de “não promover, de modo satisfatório, a modalidade, uma vez que nem sequer angariou provas de pista, num número mínimo aceitável, de forma a cumprir uma parte fulcral no planeamento de treinos dos atletas de velocidade, inviabilizando, deste modo, uma possível obtenção de mínimos”.
Segundo o porta-voz dos atletas, “a associação não cumpriu com a sua palavra”, falhando, mesmo, ao nível da comunicação com os clubes, uma vez que nem sequer divulgou as provas internacionais que poderiam significar a passagem aos jogos Paralímpicos de Pequim que se realizarão, em 2008, e cuja participação dos atletas portugueses fica, assim, comprometida.
“Esta é uma modalidade que não depende só do nosso esforço físico, tem custos muito elevados”, explicou João Ribeiro, o único atleta português medalhado com a prata em dois Campeonatos da Europa (2003 e 2005) e que também compareceu no treino, recordando que a sua primeira cadeira de rodas de competição foi oferecida por um outro atleta, de renome internacional, que acreditou e apostou nas suas capacidades e realçando, ainda, que, desde 2002, investe “90 por cento do seu salário”, para prosseguir a sua carreira desportiva.
Manuel Vieira que se deslocou de Braga, para “correr”, em protesto com os restantes atletas, explicou que “a associação até tem demonstrado trabalho, em outras modalidades adaptadas que não exigem investimentos tão elevados em equipamentos. Andamos no jogo do empurra, entre a Associação e o Governo” – lamenta o mesmo desportista, explicando que, mesmo sem os devidos apoios, a modalidade tem conseguido bons resultados, o que comprova o empenho dos atletas que, no entanto, “poderiam ir muito mais longe”.
“Essa falta de apoio afecta não só os atletas que já têm alguma experiência, mas, também, aqueles que estão a começar e que, inevitavelmente, se sentem desmotivados”, sublinhou Manuel Vieira. Uma ideia comprovada por Mário Ribeiro que, com 21 anos, representa um dos atletas mais novos no Atletismo em Cadeira de Rodas.
“Sofri a minha lesão, no ano passado”, recorda o jovem que, apesar de considerar “muito difícil” o início da carreira desportiva, na modalidade, garante que não vai desistir.
Até à hora de fecho desta edição, o Nosso Jornal tentou entrar em contacto com a Direcção da ANDDEMOT, o que se mostrou ser um esforço em vão. No entanto, soubemos que está a preparar um comunicado oficial que será divulgado, em breve.
MM