Quarta-feira, 21 de Maio de 2025
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“Bragança é dos distritos mais atrasados na questão da coesão territorial”

Entrevista à cabeça de lista do Livre | Anabela Correia | Assessora | 24 anos

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Quais são as duas grandes prioridades que defendem para o distrito?

Fundamentalmente cumprir a coesão territorial, presente na Constituição. Bragança é dos distritos que está mais atrasado. As pessoas não veem e as que cá estão saem. E saem porque não há condições de retenção. Por exemplo, eu sou de Alfândega da Fé e vejo um cenário de estagnação e isso é triste. O pilar aqui é o emprego. Onde não há emprego não há gente, isso é a verdade. Por isso, o partido LIVRE sabe que concretizar a coesão territorial toda uma sequência de benefícios se arrastam. Primeiro, o país ficaria mais equilibrado, o litoral deixaria de estar tão concentrado e o interior  contaria com mais pessoas, mais serviços, mais emprego. Desde logo, também a nossa agricultura merece ser valorizada e porque não também aliarmos ao que sabemos a inovação e tecnologia a nosso favor? Jovens, como eu, saem para estudar. Muitos já não regressam. Ou porque não temos “saída profissional” ou porque as ofertas aqui são quase sempre as mesmas. Um desenvolvimento sustentável é um desenvolvimento consciente. Aliar a esfera económica à social, à ambiental é fazer uma verdadeira política: a que serve as pessoas. 

A perda de população continua a ser um grave problema do interior do país. O que se pode fazer para combater este flagelo?

Esta questão está ligada com a anterior. Ninguém fica onde não está bem, seja porque motivo for. No nosso distrito a realidade é decadente. Tenho ouvido várias pessoas e todas elas falam do mesmo: aqui é sempre o mesmo. Esta frase traduz um sentimento de desilusão e uma certa pena que a sociedade sente. Não foi por acaso que Bragança na última década perdeu 13 000 habitantes. Por isso, conseguir atrair e reter população é a chave para terminar com a sucessiva perda de população. O Partido LIVRE defende a economia do conhecimento como um novo paradigma económico centrado na valorização do conhecimento científico, da inovação, da investigação e do desenvolvimento tecnológico como motores do progresso social, económico e ambiental. Em Bragança também é possível. Vamos refletir sobre isso.

Como atrair investimento para a região?

A nossa região tem potencialidades que podem e devem ser exploradas. Os nossos recursos endógenos, quando bem explorados, são uma mais valia. É inegável. Mas diria que uma das etapas mais promissoras para atrair investimento na região é a reabertura da ferrovia. Nenhuma empresa se vai fixar se não tiver uma boa acessibilidade. Não podemos ser um país de remendos. Acredito que é possível e que se tal passo for dado, toda uma realidade de desenvolvimento vai acompanhar Bragança e a nossa população. Estive há pouco tempo na antiga estação ferroviária de Mirandela, e é inacreditável o quão recuamos. É muito triste. 

Nos últimos tempos tem-se visto que a linha aérea tem uma grande importância para a região. Como impedir que esteja tantas vezes suspensa?

O LIVRE defende que a linha aérea de Bragança deveria ser um serviço público. Não o sendo, é verdade que pode ser encarado como um alicerce para a coesão territorial mas com contratos estáveis e transparentes, fiscalização rigorosa e integração numa rede multimodal, até que existam alternativas ferroviárias de qualidade. Só assim se evita a sua interrupção constante e se combate o isolamento do interior.

Tem-se falado que Bragança será ponto de passagem da linha de alta velocidade entre Porto e Madrid. Acredita na sua concretização? Que vantagens terá para o distrito?

 Acredito que se houver vontade e, sobretudo, coragem política para o fazer sim, Bragança e o país ficariam a ganhar. É uma questão de acessibilidade, de aproximar Portugal a Espanha, e todas as dinâmicas inerentes a essa proximidade. Trata-se de também de apostar na internacionalização de territórios de baixa densidade. Escrevi uma tese sobre essa matéria, e é de facto pertinente adotar uma lógica que à primeira vista não parece ser viável. Como vamos internacionalizar uma território assim? Mas sim é possível, aliás a internacionalização pode ser uma ferramenta de desenvolvimento destes territórios. Agora, quando temos um ministro das infraestruturas a dizer que por exemplo não reabre a Linha do Corgo pela “falta de dinâmica empresarial”, eu pergunto, então por onde se começa? Porque se por um lado não é “ viável” investir numa zona onde o tecido empresarial e demográfico são débeis, por outro, o que se faz com as mulheres e homens que vivem no território? Abandoná-los? O poder político deve ter a coragem de dar o primeiro passo.

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