Foi preciso esperar vinte séculos depois de Cristo para assistirmos ao maior momento de falência humana, ética e moral da humanidade. E será que aprendemos alguma coisa? Estaremos seguros de que jamais passaremos por semelhante período histórico tão demolidor e tenebroso? Não estamos. Alguém dizia há dias que a história ensina, mas não tem alunos. George Steiner, recentemente falecido, desabafou ao Expresso que afinal não aprendemos nada com a história e estamos estupidamente condenados a repeti-la. Não aprendemos nada. Referia-se, por exemplo, ao renascimento do antissemitismo e do racismo.
O professor Francisco Assis proferiu uma palestra interessante numa ação de formação para professores de Educação Moral e Religiosa Católica. Não tem dúvidas: «Há um falhanço profundo na educação das novas gerações. Na minha universidade recebo alunos com um claro défice na formação ético-moral. Isto pode ter consequências dramáticas. Se não estivermos preparados moralmente para acolher o mundo novo que aí vem, teremos situações totalmente monstruosas. Se não evoluirmos e não refletirmos em termos morais, teremos problemas. É preciso recuperar um discurso moral, capaz de ombrear com a preocupação económica que parece ocupar a primazia na atualidade. As sociedades precisam de uma dimensão moral. Os Direitos Humanos são fundamentais, mas não nos chegam. Lembro-me sempre da filósofa Simone Weil que afirmava que «antes dos direitos estão as obrigações». A obrigação é que verdadeiramente nos leva, nos impõe o fim. Há um déficit de pensamento moral na Europa».
Arrumámos a moral, porque, segundo se ouvia, vinha do jugo religioso e tinha ranço. A verdade é que temos de a recuperar e discutir urgentemente. Veja-se os níveis de corrupção nos vários setores sociais, o ponto a que está a chegar a violência e a degradação moral da sociedade, a vida familiar, o respeito pelo outro, o respeito e o cumprimento dos deveres para com a sociedade, o desprestígio das instituições, a sordidez de valores e princípios.