O grupo de trabalho foi criado em fevereiro deste ano e esta quinta e sexta-feira decorram as últimas e únicas reuniões presenciais.
Em declarações à agência Lusa, a autarca local, Helena Barril, explicou que esta nova unidade orgânica anunciada vai ter sede em Miranda do Douro e vai operar até 2028. No seu seguimento vai surgir de uma fundação dedicada à Lhéngua.
“Temos até ao final de setembro para propor aos vários ministérios que vão estar associados e não havia tempo para criar outra instituição. Podíamos ter enveredado pelo instituto público desde já, uma fundação, mas o tempo não nos permite isso”, detalhou a presidente da câmara que pertence ao distrito de Bragança.
Do relatório hoje apresentado saltam ainda como objetivos a garantia de recursos para a preservação da Lhéngua, o aumento da sua visibilidade e valorização e o aumento do número de falantes e da transmissão intergeracional.
Sobre este último ponto, Helena Barril destacou o papel das escolas, onde há 21 anos se ensina o Mirandês. Neste momento, há três professores mas durante muito tempo o ensino esteve a cargo somente de um professor.
“(…)As escolas são o veículo que nos fornece os novos falantes. (…) Este trabalho tem de ser intensificado e vai ser, certamente. Há muita necessidade também de formar professores”, partilhou Helena Barril.
A Lhéngua é ensinada desde o pré-escolar até ao secundário. Helena Barril avançou que, apesar de ser uma disciplina opcional, 80% dos alunos escolhe incluí-la no horário.
A presidente do município mirandês destacou ainda que ao longo dos últimos anos muito foi feito pela preservação e promoção da Língua Mirandesa também por associação e instituições de dentro e de fora do concelho e que muito desse trabalho vai ser aproveitado e ter continuidade.
“Muita daquela linha estratégica que nos estava a ser apontada já está no terreno e a acontecer”, afirmou Helena Barril, acrescentando que os esforços que têm vindo a ser feitos surpreenderam os elementos do grupo de trabalho.
Este grupo de trabalho foi efetivado em despacho do Diário da Republicana publicada a 02 de fevereiro, onde foi especificado que ainda este ano seriam definidas e implementas “estratégias de proteção e promoção da Língua Mirandesa como língua viva, promovendo a criação de uma unidade orgânica própria”.
Dele fazem parte o Gabinete de Estratégia, Planeamento e Avaliação Culturais, o Património Cultural, a Direção-Geral da Educação, o Camões – Instituto da Cooperação e da Língua, o Agrupamento de Escolas de Miranda do Douro, a autarquia de Miranda do Douro e a Associaçon de la Lhéngua i Cultura Mirandesa.
De acordo com os números estimados por Helena Barril, há cerca de 2.500 falantes da Lhéngua em Miranda do Douro, num concelho que, segundo os Censos, ronda os 6.500 habitantes.
Um estudo da Universidade de Vigo, em Espanha, mencionado por Helena Barril, sugere que, se nada em feito, em 30 anos o Mirandês pode perder-se.
“(…)É um estudo científico, pelo qual temos total respeito e é algo de que no nosso dia a dia temos noção. Vivemos aqui e temos consciência da nossa realidade. Mas queremos contrariá-lo”, rematou Helena Barril.