Foi a forma encontrada pela Câmara Municipal de Boticas para levar às várias aldeias os serviços, de forma a facilitar a vida aos munícipes e evitar deslocações à sede de concelho, tendo como público-alvo os mais idosos e desfavorecidos.
No início, o serviço contava apenas com uma carrinha, sendo reforçado em 2012, com a entrada de uma outra viatura em funcionamento, o que permitiu abranger um maior número de povoações. Foi um projeto pioneiro no país e ganhou mesmo um prémio na área da modernização administrativa.
Num município com uma elevada percentagem de idosos, e com grandes dificuldades de locomoção, já que os transportes públicos são escassos, esta é uma ajuda preciosa.
Que o diga Ilídio Dias. Era cerca do meio dia quando a carrinha chegou a Quintas, onde este idoso, com mais de 80 anos, mora desde que voltou de França, país no qual esteve emigrado. Naquela terça-feira, mal ouviu a buzina, atravessou a rua até ao largo da aldeia com uma fatura na mão. Foi o primeiro a ser atendido, pouco depois de Catarina, a funcionária, ter aberto a porta da carrinha, onde está instalado um autêntico escritório, com computador, impressora e outros recursos. “Hoje venho pagar o telefone, outras vezes é a luz ou a água”, conta, elogiando o GAM. “Isto é bom, escusa a gente de ir lá em baixo a Boticas ou à padaria na Carreira da Lebre”, conta o idoso, já com algumas dificuldades de locomoção. Prefere não conduzir e só se desloca em caso de necessidade. “Às vezes trazem-nos os remédios ou as receitas e são simpáticos”, afirma.
Fazer pagamentos das contas é uma das possibilidades, mas também é possível tratar de assuntos ligados à Segurança Social, Finanças, marcar consultas, pedir receitas de medicação, receber apoio para inscrição nos apoios agrícolas, além de terem acesso aos serviços da autarquia, entre outros.
Também Alice Pires, de 72 anos, foi pagar a fatura da água. “Acho que é bom para não irmos a Boticas de propósito, aqui é a um pulinho de casa”, afirma. Diz que “é preferível eles virem aqui”, já que assim evita gastos desnecessários, “porque o dinheiro é pouco e a reforma é pequena”.
OITO MIL
As aptidões do serviço não se esgotam nos serviços enumerados, já que ali podem ser, também, realizadas operações mais simples como tirar uma fotocópia, enviar um e-mail, ter ajuda para preencher um formulário ou esclarecer outras dúvidas, já que “o apoio vai sempre ao encontro das necessidades da população. Aquilo que eles precisarem, nós acrescentamos aos serviços que prestamos”, explica José Carlos Silva, coordenador do GAM. Um dos serviços acrescentados foi o gabinete de apoio ao emigrante, que ajuda a resolver questões relacionadas com as reformas de países estrangeiros, entre outras, já que o concelho tem um grande número de emigrantes.
Segundo o responsável, este “é um serviço de proximidade” e “o elo mais importante é a confiança dos munícipes nos três colaboradores, a confiança é a base do sucesso deste serviço”.
E esse sucesso é visível nos números, uma vez que o ano passado foram realizados 8.712 atendimentos, e até já foram mais, mas a população vai diminuindo.
Num inquérito de satisfação, a propósito do mestrado que José Carlos Silva está a realizar em gestão autárquica, as sugestões de melhorias passam por pequenos ajustes como mudar o toque da buzina, para se distinguir melhor. “Em muitos casos a sugestão dada é que não acabe, o que deixa perceber a importância atribuída ao GAM. Questionados sobre as mais-valias, “quase 60% das pessoas respondem que é económica e financeira, por não terem que se deslocar para tratar de problemas, que, às vezes, se resolvem de forma simples”.