Visivelmente emocionado, o presidente da edilidade relembrou a magia que o seu avô espalhava pelo recinto, Manuel dos Santos, mais conhecido por Sapec, e também do seu pai, assim como gerações de jovens que evoluíram neste campo, que é um “ícone da cidade”. “Hoje estou particularmente feliz por ver esta obra feita e por devolver este espaço mágico aos jovens da nossa cidade. Sei que as piscinas são necessárias, mas não poderiam ser construídas à custa da destruição deste campo histórico para os vila-realenses”, sublinhou o autarca, adiantando que “nunca” teve jeito para a bola, mas deu o seu pequeno contributo à história do SC Vila Real ao ser dirigente de uma comissão administrativa.
Rui Santos lembrou ainda que sempre foi contra o projeto apresentado pelo executivo liderado na altura pelo PSD, afirmando, desde a primeira hora, que o espaço deveria continuar a ser destinado ao futebol, com a criação de melhores condições para os jovens, inclusivamente com a colocação de um piso sintético. “Dois anos após termos sido eleitos, aqui estamos a inaugurar o renovado campo, onde as novas gerações do ‘bila’ nos encherão de orgulho sem terem de jogar na lama”.
Já sobre o futuro do recinto, o presidente deixa isso a cargo dos dirigentes do clube, que já prometeram fazer ali alguns jogos da equipa sénior, que compete na série C do Campeonato de Portugal Prio. Isso mesmo foi confirmado por Artur Ribeiro, presidente do SC Vila Real, que promete realizar jogos dos seniores “em breve” no Calvário. “Não iremos mudar a casa definitivamente para aqui, mas vamos fazer algumas partidas brevemente neste mítico estádio”, adiantando que o campo já está homologado pela Fifa, com duas estrelas, ou seja tem a certificação máxima daquela entidade para relvados sintéticos baseada em critérios de qualidade, conceção e construção.
Adriano Ribeiro jogou durante 15 anos nos seniores do SC Vila Real, desde 1968 até ao início dos anos 80, e agradeceu às pessoas que tudo fizeram para que o velho Calvário ressurgisse. “Já não pegava numa bola há mais três anos, mas hoje senti a obrigação de vir aqui e dizer um obrigado a todos, pois seria um crime acabar com este campo”.
Recordou ainda os bons velhos tempos em que as bancadas enchiam para ver o ‘bila’, em que o amor à camisola era mais forte que tudo o resto. “Lembro-me das bancadas estarem sempre cheias, até nos muros havia gente a ver a bola, era o fim do mundo. As pessoas gostavam muito de vir ao futebol e hoje estou convencido que também gostam, mas não havia condições para fazer aqui os jogos dos seniores, como há agora, por isso espero que voltem a jogar no Calvário”.
Outro atleta dos anos 70, Bernardino Fernandes não escondeu a emoção de pisar este novo relvado, mesmo que não tenha feito a preparação necessária. “Vivi aqui grandes momentos com o estádio sempre cheio. Lembro-me das duas épocas em que subimos de divisão em 74-75 e depois em 76-77, foi uma grande alegria, com todas as bancadas cheias a apoiar a equipa. São momentos que ficam para sempre”.
O jogo que animou a festa opôs as velhas glórias do SC Vila Real às do FC Porto, o resultado foi de 12 – 0, favorável aos portistas, que mostraram melhor condição física, mas os transmontanos também deram luta, sobretudo no segundo tempo.
Adriano Ribeiro, capitão de equipas na década de 70:
Era um crime tirar um campo tão bonito à cidade e a esta juventude. Fico muito satisfeito em ver de novo o Calvário cheio de vida, agora só espero que os seniores venham jogar aqui”
Bernardino Fernandes, defesa na década de 70:
No nosso tempo quase todos os campos eram pelados e não estamos habituados a estes pisos, precisávamos de treinar um pouco mais. É difícil controlar a bola, que por vezes prende no relvado. Hoje também encontramos um adversário muito forte e era difícil fazer melhor”