“Para quem achava que os professores estavam cansados e fartos de lutar, bem podem meter a viola no saco. Estão 40 mil professores aqui e outros 40 mil lá no Porto, o que quer dizer que temos a maior manifestação nas ruas”, anunciou Mário Nogueira em frente à Assembleia da República, o destino da manifestação em Lisboa que começou às 15:30 no Rossio.
Mário Nogueira criticou ainda o pedido de serviços mínimos para os dois dias de greve regional que decorreram na quinta e sexta-feira, considerando a decisão “intolerável” e garantindo que “a luta não vai parar”.
“A luta vai continuar enquanto os professores não forem respeitados”, afirmou, apelando aos docentes para que estejam presentes junto ao ministério no próximo dia 9 de março, quando se realizará a reunião suplementar para negociar um novo regime de recrutamento e colocação de professores.
As negociações entre a tutela e os sindicatos sobre um novo modelo de contratação e colocação de professores começaram em setembro, tendo terminado em fevereiro sem acordo.
Hoje, Mário Nogueira voltou a lembrar perante milhares de professores algumas das “linhas vermelhas” do documento apresentado pelo Ministério da Educação, como seja a criação de uma espécie de conselho de diretores das escolas com autoridade para colocar docentes a trabalhar em dois agrupamentos.
Mas existem outros motivos para os protestos como a recuperação de cerca de seis anos e meio de serviço congelado, que conta como apoio do PCP e do Bloco de Esquerda que hoje voltou a marcar presença na manifestação em Lisboa.
Em declarações à Lusa, Jorge Pires, do PCP, apoiou “as justas reivindicações dos milhares de professores e educadores”, lembrando que “trabalharam sempre, todos os dias, com grande afinco e a pensar sobretudo nas nossas crianças”.
Para Jorge Pires, o Governo terá “de ceder porque esta é uma luta imparável que não vai terminar enquanto os professores não atingirem o seu objetivo”.
Também a deputada bloquista Joana Mortágua sublinhou hoje a “justa luta” dos professores pelo “direito a salários dignos” e o pagamento das despesas de deslocação que permita aos docentes trabalhar em zonas do pais como Lisboa, onde as rendas das casas chegam a ser superiores aos seus ordenados.
Em declarações à Lusa, Joana Mortágua lembrou a precariedade, os casos de “professores que pagam para trabalhar” e todos os que “são mal tratados”.
“O Governo tem feito uma coisa impensável que é, cá fora, diz que está a estudar a possibilidade de recuperar o tempo de serviço, mas depois, nas reuniões, não há nada”, criticou a deputada do bloco, lembrando que a recuperação dos seis anos e meio do tempo de serviço congelado é “uma condição básica para conseguir negociar com os professores”.
Entre os professores que hoje se manifestaram em Lisboa estava Ana Fernandes. A docente de educação visual desde 1996 disse à Lusa sentir-se “roubada pelo atual ministro da Educação”.
Vestida de ladrão, com uma placa dizendo “João Costa”, Ana Fernandes explicou que decidiu personificar o ministro que roubou “aos professores o tempo de serviço trabalhado, mas também o direito à greve, o respeito, a paz de espírito e noites de sono”.
“João Costa não leu o livro de instruções de ministro”, criticou Ana Fernandes que trabalha há 27 anos e deveria estar no 6.º escalão, mas ainda está no 3.º, depois de anos com a carreira congelada e a ser “ultrapassada por colegas”.
Também Susana Morte, de 51 anos, viajou de Olhão para hoje se manifestar em Lisboa. A professora de 1.º ciclo criticou os horários de trabalho, garantindo que, em média, em vez de “35 horas semanais trabalha entre 50 a 60 anos”, devido à burocracia a que os docentes estão obrigados.
Com um cartaz ao peito dizendo “Nós não somos pombos para aceitar migalhas. Continuamos em luta”, Susana Morte exigiu também a recuperação do tempo de serviço e criticou a idade de reforma, dando como exemplo colegas “de 51 e 52 anos que já se sentem cansadas em estar todo o dia numa sala de aulas com meninos”.
“O tempo é para contar, não é para roubar” foi uma das frases mais gritadas pelos professores que exigem ao Governo que abra um processo negocial para a recuperação dos mais de seis anos em que tiveram as suas carreiras congeladas, durante a Troika.
A última manifestação convocada pela plataforma de sindicatos decorreu há pouco menos de um mês, a 11 de fevereiro, e muitos dos motivos do protesto mantêm-se inalterados.