Os critérios para determinar quando prolongar a vida ou quando é mais sensato permitir que ela chegue ao fim são complexos e, por vezes, pouco claros. A qualidade de vida, a eficácia do tratamento e às vezes até mesmo os recursos disponíveis tornam-se fatores essenciais nesta equação.
A ideia de que temos total autonomia sobre a nossa própria vida e morte é um conceito reconfortante, mas que, na prática, se revela uma ilusão. As decisões são tomadas num contexto onde a ética se cruza com a gestão e a compaixão precisa coexistir com a racionalidade. Confuso? Não é para menos.
O dilema reside na linha que separa o prolongamento da vida da obstinação terapêutica. E é nesse cenário que a ilusão da autonomia se manifesta: enquanto acreditamos estar no controle, as decisões são filtradas por fatores que vão muito além da vontade individual. Prolongar uma vida em condições adversas é e será sempre um dilema, assim como determinar quando chegou o momento de parar.
Cada caso é um caso. A complexidade da medicina, especialmente quando se trata de decisões de fim de vida, não permite soluções universais ou respostas definitivas. Cada ser humano é único, e o seu percurso de vida, as suas condições de saúde e os seus valores pessoais são diferentes, uns dos outros.
Lidar com isso, para os profissionais de saúde, não é simples. Muitas vezes, o que é melhor para um, em termos de prolongamento da vida ou de alívio do sofrimento, pode não ser o que faria sentido para outro, mesmo dentro de um quadro semelhante.
E é aqui que entra o “lidar”. Lidar não apenas com os desafios técnicos de um tratamento, mas também com o lado humano da medicina. Lidar com a dúvida, com a incerteza, com os dilemas éticos que surgem, lidar com a dor e o medo, e principalmente lidar com o peso de decisões que tem sempre o seu impacto e são irreversíveis.
Às vezes, não se trata de encontrar uma solução, mas de fazer o melhor possível dentro das circunstâncias. É um processo de tentativa e erro, de escuta ativa e de empatia, onde a resposta nem sempre será a mesma para todos.
Por mais que a medicina avance, trazendo consigo tecnologias e tratamentos inovadores, ela continua a ser uma ciência humana, sujeita a falhas e limitações. A busca pelo equilíbrio entre o prolongamento da vida e a qualidade dessa vida é um desafio constante, que exige não apenas conhecimento técnico, mas também sensibilidade e humildade. A medicina poderá até adiar, mas o fim é inevitável. É na compreensão de que a morte é parte intrínseca da vida, que encontramos a sabedoria de que o maior ato de cuidado pode ser por vezes, saber quando parar.
Independentemente do que a medicina decidir, a morte continua a ter uma taxa de sucesso de 100%. Talvez o verdadeiro dilema não esteja em prolongar a vida ou abreviar o sofrimento, mas sim em aceitar que por mais avanços que façamos, continuamos sem escapatória, porque a medicina até pode conseguir manter-nos a respirar por mais uns anos, mas no fim, é a morte quem tem sempre a última palavra, e sejamos honestos, ela não se importa com o que pensamos.