Alguns, operadores e dirigentes, a pensar em mercados específicos: os que procuram o turismo cultural, o enoturismo ou o turismo da natureza. Até houve quem se deixasse levar pela ilusão de fluxos de massas, sem dar atenção aos seus malefícios. Daí, o discurso das grandes potencialidades.
Depois, na sequência da construção da barragem do Tua, surgiu também o discurso das potencialidades daquele vale. (Não me pronunciarei sobre a polémica da construção para a produção de energia elétrica, criando aquele reservatório, em desfavor de manter o Tua como rio selvagem. Efetivamente, nunca vi procurar o Vale do Tua e as suas caraterísticas com importante valia natural até ao início da construção. Mais ainda, até ao início do enchimento da albufeira).
Quando os municípios negociaram as contrapartidas, procuraram encontrar formas de acrescentar algo à região. Louvável, essa atitude. O aproveitamento do Vale, da fauna, ou da flora, as marcas geológicas, o relevo, os locais para, simplesmente, fruir a paisagem mostram-se favoráveis aos que referem o Vale do Tua como um espaço com potencialidades. E vão dois, dir-se-á. Potencialidades e mais potencialidades! E quando se passa de potencialidade a realidade? – pergunta-se.
No Tua houve investimentos. Muitos investimentos. Alguns, públicos; muitos, privados. Uns, com apoio de fundos comunitários; outros, de poupanças, pequenas, ou maiores. Angariadas, por vezes, com muita renúncia e sacrifício. Geraram-se expetativas, frequentaram-se cursos de formação, contrataram-se especialistas em comunicação e marketing, despertaram-se sonhos. Criou-se o Parque, com uma estrutura organizativa leve, mas que possibilitou a criação de alguns instrumentos para um melhor aproveitamento do tal potencial de que se fala. E, complementando o trabalho que algumas autarquias já haviam iniciado, estruturaram-se e sinalizaram-se vários percursos pedestres para facultar aos amantes da natureza caminhar pelas nossas encostas, no meio das vinhas de Porrais e da Sobreira, na floresta de S. Lourenço, nas Fragas Más de São Mamede, monte acima até ao Miradouro da Cunha, pelo Vale de Moinho em direção às Caldas, reconstituindo uma das variantes do Caminho da Prata que leva a Santiago.
Que fazem as empresas e serviços públicos? A dos comboios acaba com uns, o Miradouro, diminui ao tráfego de outros, o Histórico, e deixa degradar as composições de todos os dias que também servem os turistas. A Infraestruturas de Portugal enjeita responsabilidades na criação de condições para o comboio voltar a apitar entre Mirandela e Brunheda. Outros criam obstáculos de outra natureza. Mário Ferreira não esconde a sua “frustração”. E os pequenos empresários das freguesias limítrofes como se sentirão? Revoltados, certamente. Já lá vão três anos! O que é demais… Porque, com estes atrasos, nunca mais se passa de potencialidade a realidade.