Segunda-feira, 9 de Dezembro de 2024
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O que leva os jovens a serem bombeiros voluntários?

Em tempos em que o voluntariado escasseia, o que motiva os jovens a serem bombeiros? Alguns têm o sonho de seguir esta carreira, outros seguem os passos de familiares, ou então têm vontade de ajudar. Marco, Leonor e Miguel são jovens bombeiros voluntários, que abraçaram a missão de ajudar os outros e salvaguardar bens sem receber muito em troca

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Quando a sirene toca, eles estão prontos para mais uma missão, seja para salvar alguém num acidente, seja para apagar um incêndio, em que a palavra “medo” não faz parte do seu vocabulário.

Marco Rafael, de 22 anos, é de Sanfins do Douro, localidade onde sempre viveu até entrar na faculdade em comunicação social. Com a licenciatura terminada e a frequentar um mestrado em marketing, divide o seu tempo entre a Universidade em Coimbra e os bombeiros de Sanfins do Douro.

A paixão nasceu desde miúdo. “Quando somos pequenos, todos querem ser bombeiros ou polícias e eu não fui exceção. Sempre tive o bichinho de ver as ambulâncias e, com seis anos, ingressei como infante. Todos os verões, passava aqui o meu tempo e fui crescendo dentro desta casa”, conta, adiantando que gosta de ajudar o próximo. “Quando saio para um socorro, por exemplo, acredito que sou uma mais-valia para a população, de quem temos de cuidar”, ainda mais quando a associação humanitária está inserida num meio rural, onde há muitos idosos.

Nas diferentes áreas dos bombeiros, Marco confessa que aquela que mais o atrai é a da saúde, o pré-hospitalar. “É a área em que estamos diretamente em contacto com as pessoas e podemos realmente fazer a diferença”.

E há situações difíceis que têm de enfrentar, quando acontece algum acidente grave, por exemplo. “Já passei por uma situação complicada, em que houve um acidente que envolveu pessoas conhecidas. São emoções que não são fáceis de controlar e há maior dificuldade em separar o lado pessoal do profissional”.

Marco acredita que como bombeiro pode fazer a diferença na vida de alguém. “Se calhar vou ter a oportunidade de contribuir para melhorar a vida de uma pessoa num momento mais frágil e isso é gratificante”.

O Marco é um jovem da terra e, como há poucos, temos de lhe dar as melhores condições”
BRUNO GIRÃO, Comandante dos BV Sanfins do Douro

Com o futuro profissional por definir, Marco revela que nunca deixará de ser bombeiro voluntário. “Mesmo que a vida nos leve para outras direções ou rumos profissionais, um bombeiro nunca deixa de ser bombeiro. É algo que está dentro de mim e nunca vou deixar de ser bombeiro”.

O comandante da corporação de Sanfins do Douro, Bruno Girão, elogia a disponibilidade do jovem bombeiro, que cresceu naquela casa. “É um jovem que está sempre disponível, não só para ajudar, mas também quer evoluir e tirar formações para o ajudar a melhorar a cada dia. É um jovem da terra e como há poucos, tentamos dar-lhe as melhores condições, para que se sinta bem”.

SEGUIR A MÃE

Leonor Rodrigues, de 17 anos, é uma jovem com muitos sonhos que seguiu os passos da mãe, que é bombeira voluntária há vários anos nos Bombeiros da Cruz Branca, em Vila Real. “Ando na Fanfarra há oito anos e como a minha mãe também é bombeira, eu queria ir sempre atrás dela quando a via sair de casa para socorrer alguém ou ir para um incêndio, mas não podia, porque era pequena”.

Sentimos cada vez mais dificuldade em iniciar a escola para formação de bombeiros”
ORLANDO MATOS, Comandante BV Cruz Branca- Vila Real

“Quando vinha para a Fanfarra, esperava pela minha mãe e gostava de ver como funciona toda esta dinâmica. Depois, em casa, ela também me contava histórias que lhe aconteciam e eu ficava muito atenta a ouvir”, conta à VTM, adiantando que a mãe passou por algumas situações complicadas no combate a incêndios. “Uma vez, ela estava a segurar a mangueira, que ficou presa ao pé, e ela ficou queimada nas mãos, mas não foi grave”.

Outra situação aflitiva da mãe aconteceu num incêndio que consumiu a serra do Alvão e o fogo aproximou-se da casa dos avós. “A preocupação era conter o fogo e, ao mesmo tempo, tirar os meus avós de casa, mas felizmente correu bem”.

Apesar de saber que os bombeiros correm maiores riscos, Leonor não tem receio e logo que abriu a escola para fazer a formação entrou. “Entrei em setembro de 2023, mas já tinha tentado entrar nos infantes e nos cadetes, mas nunca abriram turmas. Tinha de ser mesmo nessa altura, porque depois como vou para a universidade era mais difícil tirar o curso”.

Aluna da Escola Secundária de S. Pedro, vai concorrer à Universidade do Minho, onde quer seguir criminologia. “Quero entrar para a Polícia Judiciária, mas também quero conciliar a minha vida profissional com os bombeiros, porque tenho grande curiosidade de perceber de que forma posso ajudar”.

Sem medo de enfrentar os desafios, Leonor acredita que nos bombeiros “tenho o poder de ajudar o outro. É isso que me move”.

A área que mais a cativa é o mergulho e emergência hospitalar. “Os meus formadores são muito bons e isso acaba por influenciar os meus gostos”.

PROFISSIONAL

Miguel Amaro, de 23 anos, é bombeiro profissional e integra uma das Equipas de Intervenção Permanente (EIP) da Cruz Branca. “Vim para os bombeiros na altura da Covid-19, mas houve muitas restrições nas formações”, o que levou mais tempo para tirar a formação. “A minha turma de estagiários ficou ali aquele ano quase sem aulas. Depois lá consegui tirar o curso e subi a bombeiro de terceira. Estava a trabalhar na restauração, concorri para a EIP e tive a sorte de entrar, porque sempre quis ser bombeiro”.

Após concluir o 12º ano, Miguel arranjou um emprego no verão e depois foi para empregado de mesa. Foi aí que surgiu a oportunidade de abraçar a carreira de bombeiro. “Conheci um senhor que é aqui bombeiro, que me desafiou-me a inscrever-me e as coisas foram acontecendo. Hoje sou bombeiro de terceira e faço parte da EIP”.

Na equipa desde março de 2023, Miguel confessa que desde pequeno teve o fascínio pelos bombeiros. “Na minha aldeia, Galegos, havia muitos incêndios e eu ia com o meu pai ajudar a apagar o fogo com giestas. Era uma adrenalina grande e eu gostava de estar ali a ajudar”.

Bombeiros de Sanfins do Douro

Ainda não passou por nenhuma situação difícil, mas acredita que se surgir estará pronto para dar o seu melhor. “Estou com bombeiros experientes, que me ensinam todos os dias e quando tiver de assumir mais responsabilidades, eu assumo e não fico para trás”.

Miguel sabe que os incêndios são perigosos, tem algum receio, mas sabe que ao seu lado tem pessoas mais experientes que o ajudarão a enfrentar os casos mais complicados.

“Tenho respeito e sou cauteloso com os incêndios, em que tenho de seguir o que dizem os mais experientes, de forma a que o combate corra bem”.

Feliz com a opção que tomou, Miguel quer seguir esta carreira e ajudar as pessoas quando elas mais precisam.

Orlando Matos, comandante dos bombeiros da Cruz Branca, admite que jovens voluntários são cada vez mais escassos. “Estamos a pensar em avançar com escolas de cadetes e infantes, de forma a incentivar os mais novos para esta área. Mas não é fácil quando vemos a própria GNR e a PSP com dificuldade em recrutar elementos”.

Mas ser bombeiro não é apenas dar, já que a forma como são acarinhados pela população também acaba por ser uma grande recompensa. Todos sentem que o mais importante é saberem que estão a ajudar alguém, e isso faz toda a diferença.

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