“O selo, a inscrição do Douro no Património Mundial [da Organização das Nações Unidas para a Educação, Ciência e cultura (UNESCO)], como de qualquer bem, é, de facto, fortíssimo. É um instrumento muito poderoso, um reconhecimento poderosíssimo, mas não é uma varinha mágica, de condão”, disse hoje Célia Ramos no painel “A Europa na preservação de um Sítio Património Mundial: 20 anos do Douro na UNESCO”.
O painel ‘online’ foi promovido pela CCDR-Norte no âmbito da Semana Europeia das Regiões e Cidades 2022, que decorre até quinta-feira em Bruxelas, e é organizada pela Comissão Europeia e pelo Comité das Regiões.
A responsável da comissão de coordenação disse que, além da classificação da UNESCO, “o reconhecimento tem de ser acompanhado de políticas públicas, também elas fortes, que valorizam e promovam o bem, neste caso o Douro”, considerando que ao longo dos anos a região “foi sendo fulcro dessas políticas”.
“A construção da barragem do Tua fez-nos tremer. Nós tivemos que perceber e aprofundar o modelo de gestão, tivemos que nos relacionar com as instâncias internas, designadamente com a comissão nacional da UNESCO, como o fazemos desse momento até agora, em todos os momentos que aparecem”, acrescentou Célia Ramos.
Questionada acerca do risco de perda da classificação, a responsável asseverou que “isso hoje não existe”, remetendo para palavras anteriores de Clara Cabral, da comissão nacional da UNESCO.
A responsável da organização integrada nas Nações Unidas tinha anteriormente dito que “a desclassificação de um sítio, a retirada de um bem da lista de património mundial, é um processo que não é muito vulgar”.
“Até hoje apenas foram retirados da lista três sítios, mas existem muitas situações em que, de facto, a UNESCO pergunta aos Estados-parte, e pergunta aos gestores dos sítios, o que se está a passar e procura explicações para projetos que estão a ser desenvolvidos”, explicou.
Outro dos oradores no painel foi o produtor e empresário Dirk Niepoort, que alertou para o risco das alterações climáticas para a região do Douro.
“As mudanças climatéricas são evidentes, e tendencialmente não vão ajudar. Vai haver mudanças, em certas regiões, se calhar para melhor, no Douro claramente para pior. Nós estamos habituados a viver em situações extremas, mas está a tornar-se ainda pior”, considerou.
O produtor disse que o setor terá de “repensar muita coisa”, e “algumas das vinhas, que sempre foram das melhores para vinho do Porto, vão ter dificuldades, em certos anos, devido à falta de água e ao calor”.
A Semana Europeia das Regiões e Cidades decorre até quinta-feira em Bruxelas, contando também com vários painéis ‘online’.