No início de mais um ano, é inevitável o desejo de imaginar o que de melhor queríamos que acontecesse, pelo que são naturais mensagens ou palavras de esperança para os novos tempos que se avizinham.
Na verdade, o final de 2021 trouxe às vidas de muitas pessoas o impacte de notícias que tocaram de forma impressionante os mais profundos sentimentos. Angústias, distúrbios mentais, tristeza generalizada, proliferam hoje de forma preocupante…Sabemos que a depressão é uma das doenças mais incapacitantes do mundo e se espalha de forma quase epidémica, tornando-se a doença mais galopante da humanidade.
Andamos preocupados, receosos com vários tipos de medos…a pandemia, por um lado e as guerras bélicas por outro. Vivemos um mundo de desigualdades, onde milhões de pessoas passam fome e um número incontável morre sob o jugo dos tiranos, os donos do mundo, e atropelam-se os direitos de crianças e jovens, bem como de mulheres escravizadas e humilhadas.
O nosso povo e a nossa cultura são tradicionalmente ricos na sua expressão de afetos e na forma como gostam de proteger e cuidar dos mais novos. Numa visão generalista interessamo-nos muito pelas crianças, mas raramente lhes damos espaço para que elas brinquem e joguem harmoniosamente em liberdade: sejam felizes.
Se perguntássemos a todos se preferiam acordar a meio da noite assustados com imagens de horror e sofrimento, ou dormir um sono justo e tranquilo, ninguém hesitaria no óbvio da resposta.
Chegou a hora. Que os sinos toquem a rebate para que todos compareçam. Temos de sair desta crise, reconstruindo a esperança, para que não se volte a tropeçar nas pedras da irresponsabilidade. É este o tempo, o tempo do nosso tempo…os vírus aparecem com novas roupagens e as guerras não se compadecem com a maior guerra de todas: a pandemia. Todos os senhores do mundo se deviam preocupar em combater este flagelo sem ideologias, sem ódios nem racismos.
Sim, hoje é preocupante o cenário do mundo. Há casas vazias porque não se fala, há paredes sem retratos, estantes sem livros, casas onde nunca cheira a bolos de laranja ao domingo e onde o som das gargalhadas das crianças raramente ecoa.
O novo ano como será? Nada será como dantes porque as folhas do calendário murcham rapidamente e cada um de nós terá de saber encontrar, fora do reino da banalidade, as respostas mais adequadas. Não gostaria de me associar a esse desespero ainda surdo, mas a verdade é que se há sonhos que comandam a vida, como disse Gedeão, há palavras que sendo como bofetadas, não podem deixar de ser escritas…2022 será pior? Oxalá que não.