Com mais de metade do país em seca severa (55% do país), são inúmeros os municípios que têm tentado consciencializar os seus habitantes para a redução do consumo de água e são também vários os municípios que têm aplicado restrições ao uso de água, nomeadamente a proibição de rega de hortas, jardins e parques, bem como a lavagem de automóveis e passeios.
Apesar de ser cada vez mais importante sensibilizar as populações para a poupança de água, é também importante garantir que se desperdice o mínimo possível do recurso durante a sua captação, tratamento, armazenamento e distribuição. No entanto, atualmente, grande parte das entidades gestoras de água nos municípios nacionais apresentam taxas muito elevadas de água não faturada, que são originadas maioritariamente por desperdícios avultados de água (as Câmaras Municipais são a entidade gestora na esmagadora maioria dos concelhos portugueses).
A Entidade Reguladora dos Serviços de Águas e Resíduos (ERSAR), classifica o serviço em três categorias consoante a percentagem de água não faturada: boa qualidade de serviço nos municípios com percentagem de água não faturada inferior a 20%; mediana qualidade de serviço nos municípios com percentagem de água não faturada inferior a 30% e superior a 20%; e insatisfatória qualidade de serviço nos municípios com percentagem de água não faturada superior a 30%. Em 2020 a esmagadora maioria dos municípios portugueses estavam classificados na última categoria. Importa referir que uma boa parte dos municípios com maior fatia de água não faturada por parte das entidades gestoras são concelhos onde foram reportadas situações graves no que toca ao abastecimento de água durante este verão.
Uma das principais causas do elevado desperdício de água nos serviços de abastecimento, que se verifica em Portugal, está relacionada com a reduzida manutenção e reabilitação de condutas de água. Entre 2016 e 2020, o nível de reabilitação de condutas tem sido sistematicamente insatisfatório, com apenas 0,2% das condutas reabilitadas anualmente no serviço em alta e 0,6% no serviço em baixa.
Estes números são preocupantes e revelam uma degradação da infraestrutra pública de distribuição de água, com claros prejuízos para o ambiente. Não basta impor aos cidadãos uma maior consciencialização no consumo de água, é importante que o exemplo comece nos próprios municípios e entidades gestoras.