Inserido na Associação Cultural e Etnográfica de Borbela e associado ao INATEL, o conjunto soma 31 anos de casa e continua a percorrer o país de norte a sul e, quando outra oportunidade aparece, também dá um saltinho ao estrangeiro.
Antero Silva Pinto, presidente, e um dos fundadores, conta que atualmente o grupo tem cerca de 38 elementos, mas em outros tempos, “chegou a passar dos 50”. “Andámos nisto com muito gosto e alegria, o mais novo deve ter uns 7 anos e o mais velho, tem 75. Alguns já estão reformados ou foram para o estrangeiro e não puderam continuar. É assim que preenchemos os tempos livres e temos ensaio marcado todas as sextas-feiras, na chamada Escola do Casal, o espaço que nos concederam”, explicou o fundador.
Como dita a tradição, o rancho é constituído por bailarinos, cantadores e pelos tocadores sempre na companhia de instrumentos como violas, cavaquinhos, bombos, acordeões, ferrinhos, pandeiretas, reco reco, entre outros. Quanto aos trajes, quer o do homem quer o da mulher, são inspirados “nas roupas dos antigos” e “mandados fazer às costureiras”. Embora atualmente seja complicado encontrar os tecidos corretos para as roupas, ainda há “uma ou outra loja tradicional que os vende”. A mulher, sempre de saia rodada e comprida, veste uma camisa de chita, um lenço na cabeça, meia branca trabalhada à mão pela altura do joelho e sapato preto. Já o homem apresenta-se de calça de cotim, camisa de chita e boina ou chapéu. São variados os seus trajes, podendo encontrar-se entre eles o de pastor, com ou sem croça, de lampião com a sua capa de burel, os noivos, lavradores pobres ou abastados, de domingueiro rico, de morgada, de leiteiro e de ir à missa.
Conhecido pela fidelidade às tradições transmontanas, o rancho já pisou diversos palcos em países como a França, Espanha e Suíça e continua a receber convites para participar em festivais de folclore, nas mais importantes festas e romarias e, ainda, em programas de televisão e várias cerimónias e homenagens. Contam-se variados usos e costumes, tais como a vareja da azeitona, a desfolhada, a espadelada, a cegada de centeio. “Um dos nossos objetivos é tentar recriar todas essas tradições, daí andarmos sempre com as mangueiras para a malhada do centeio, com as cestas para as azeitonas”, explicou Antero Silva Pinto, enquanto recordava uma história engraçada. “Antigamente, quando se fazia uma festa, havia sempre zaragata por causa das raparigas. Dois rapazes queriam dançar com ela e, por vezes, a moça até gostava dos dois. Nós recriamos essa cena e eles levam muito a sério a encenação em cima do palco. É muito engraçado e um deles partia sempre os óculos! No final, dão todos um abraço e ficam amigos”, contou o fundador, entre risotas.
O extenso repertório do Rancho Folclórico e Recreativo de Borbela é recolhido nas aldeias da freguesia de Borbela e seus arredores. Também as suas danças, o Vira, o Malhão e as danças de Roda, são inspiradas em testemunhos do povo mais velho. De forma a chegar a ainda mais pessoas, o grupo lançou um CD com alguns dos seus temas mais conhecidos como “Ó Rita arredonda a saia”, “O malhão da nossa terra”, “Ó António da Portela”, “Padeirinha”, “Adeus ó Laurinda” e muitas mais.
Segundo Antero Silva Pinto, a atual ambição do conjunto é encontrar um espaço onde possa expor todo o seu património, resultando assim num museu dedicado ao folclore do Rancho de Borbela. Prémios, distinções, medalhas, vestuário e acessórios tradicionais são os bens guardados que esperam ser mostrados ao público.
Com a vontade de continuar sempre presente, o grupo espera manter vivas as tradições dos seus antepassados transmontanos enquanto divulga as suas danças e cantares não só pelo país, mas também pelo estrangeiro.