Decorria o ano de 1998 quando, por brincadeira, dois estudantes universitários ponderaram criar uma tuna masculina. Foi num dia de Páscoa que Miguel Fonseca e José Rainho decidiram avançar com um projeto inovador e estimulante.
Aquando de uma reunião, mais formalizada, no café “Vitó”, onde se costumavam encontrar habitualmente, o projeto deixou de ser apenas uma ideia e tornou-se uma realidade.
“Éramos oito elementos, mas dois tiveram que sair. Os seis que se mantiveram foram o núcleo duro da tuna. Nós formámo-la e trabalhámos para que o grupo avançasse e evoluísse”, contou um dos fundadores, José Rainho.
Passado vinte anos, a tuna foi deixando a sua marca pelos locais onde passou. Tornou-se uma referência quer no plano da música, quer académico. Nestas duas décadas, foram vários os pontos altos deste grupo. Tenham sido viagens ou festas por todo o país, tudo contribui para dignificar o nome da Transmontuna. Mas na escolha do seu auge, o fundador e os dois atuais membros, André Pereira e Armando Pereira, são unanimes: “termos recebido a medalha de mérito da cidade de Vila Real. Além de ser um orgulho recebê-la, fomos a primeira tuna distinguida na cidade”. Igualmente marcante, foi a primeira festa ibérica, realizada em Espanha. “O festival é organizado anualmente e reflete o culminar de um ano de trabalho”, referiu Armando Pereira, presidente da Associação.
Embora sejam contabilizados apenas 30 elementos ativos na tuna, “uma vez tuno, tuno para sempre”, pelo que o total significa que o total de membros rondará os 90. Mas se pensa que é preciso ter um dom para entrar neste grupo académico, desengane-se. “A tuna não é um grupo de músicos, muitas vezes os músicos formam-se após a sua integração. No fundo, o necessário para entrar é boa disposição, saber estar e ter espírito académico bem vincado”. Mas o que será isso de espírito académico? “É a predisposição para aceitar uma hierarquia para cada um acatar o seu papel dentro dela e saber identificar-se, honrando sempre a nossa casa, honrando a Universidade de Trás-os-Montes e Alto Douro”, finalizou o presidente.
Apesar dos momentos menos positivos que a vida académica atravessou, o reconhecimento e a proximidade para com o grupo sempre foi constante. “Há bastante empatia da parte da academia com a Transmontuna, não só a nível de colegas da faculdade, mas também professores, funcionários e vila-realenses em geral”. “Já não sou tão ativo nas atividades, mas, por vezes, ainda há pessoas que me reconhecem e cria-se um momento bonito de confraternização, graças à tuna”, destacou José Rainho.
Ao contrário da maioria dos grupos musicais académicos, a Transmontuna formou-se com os pilares de uma associação. “A prática comum era pertencer à Associação Académica, que dava apoio às tunas a nível de transportes ou outras despesas, mas optamos por um sentido diferente. Sendo uma associação sem fins lucrativos, teve que haver um conjunto de trabalhos extra por trás, sejam planos de atividades quer seja para a própria gestão em termos administrativos e financeiros”.
Neste seguimento, além da hierarquia interna, existem duas funções muito importantes: presidente da Associação, cargo ocupado pelo tuno Armando Pereira, e responsável pela Tuna, função desempenhada por André Pereira. Apesar de funções distintas, elas complementam-se. A função do presidente é orientar e gerir a tuna em todas as burocracias, a do responsável é garantir o encaminhamento do grupo em tudo o que tenha a ver com ensaios, atuações e o comparecimento dos elementos quando necessário.
Na memória ficam as viagens a Espanha e ao Brasil, que permitiram ampliar os conhecimentos e alargar horizontes, em contacto com diferentes culturas. Devido às questões financeiras, as idas ao estrangeiro têm sido dificultadas, mas mesmo assim, garantem que o futuro continuará a ser risonho e, se agora festejam 20 anos de existência, o objetivo é celebrar números mais imponentes. Armando Pereira destaca que para os anos vindouros “continuaremos a ir a festivais e a empenharmo-nos ano após ano, esperando que aqueles que entram consigam continuar os gloriosos anos passados”. O responsável dá foco ao facto de “a Tuna não ser só sair à noite. É um grupo onde as pessoas se tornam amigas, unindo gentes diferentes e de distintas áreas de estudo. Muitas das coisas que fazemos ajuda-nos na nossa vida e no trabalho”. Por fim, o veterano reforça a ideia que “nós envelhecemos e as tunas também, mas queremos continuar a manter a chama acesa e pretendemos levar a boa disposição transmontana onde nos convidarem. No fundo, temos que deixar o sonho continuar”.