Foi há mais de 200 anos que tudo começou. Dizem os historiadores que decorria o ano de 1810 quando Frei Vicente, movido pela sua paixão pela música e pela pequena comunidade de Mateus, reuniu um pequeno grupo de rapazes, da terra, para cantar durante a missa. Contudo, a vontade de tocar e o gosto pelo convívio que a música proporciona levou a que, nesta localidade, próxima da cidade de Vila Real, se fundasse a tão conhecida, atualmente, como Banda de Música de Mateus.
Assim nasceu, no século XIX, uma das bandas filarmónicas mais antigas não apenas da região, mas também do país, permitindo, assim, a criação de um grupo que, ao longo dos anos, foi permanecendo, geração em geração, carregando consigo um enorme legado de estórias, tradições e costumes que são hoje ouvidos pelos jovens que ingressam na banda com a máxima atenção.
Adérito Silveira, figura incontornável da história recente da Banda de Mateus, dirigiu a banda durante nove anos, na década de 1970, contribuindo, sozinho, para a formação de mais de 100 músicos, conta à VTM, que a banda, no seu início, desempenhou um papel fundamental não só no que respeita ao convívio entre as gentes, mas também como forma de sustento de várias famílias.
“Em alguns casos, a banda era a razão de ser da sua existência, porque através dela, as pessoas saiam de casa, conheciam outros lugares e saciavam, sobretudo, a fome. O facto de irem a casa de um patrão numa aldeia qualquer permitia-lhes comer bem, menus à discrição, que em casa era inconcebível, porque na verdade a miséria era muita em todo o país, mas, sobretudo, em Trás-os-Montes e nas Beiras”, conta-nos.
Contudo, ao longo dos anos, após muitas caminhadas e dificuldades, a banda foi “amadurecendo”, ganhando notoriedade e reputação no mundo da música nacional, pelo que, hoje em dia, conta com mais de 60 músicos qualificados, muitos deles provenientes da própria formação que a banda oferece, apresentando-se como uma das mais requisitadas da região.
Altino Alves, presidente da Banda de Mateus, revela-nos que sente “um orgulho enorme em ser presidente de uma associação com tantos anos, com tanta história, pela qual já passaram várias gerações”, o que o leva a desempenhar o cargo com “muita responsabilidade”.
Apesar de a falta de jovens ser um problema comum na manutenção destas associações, a Banda de Mateus é constituída, na maioria, por gente jovem, apresentando uma média etária de 20 anos. Segundo nos conta o Maestro Carlos Pereira, os ensaios funcionam “quase como um ano letivo”, sendo os meses da época de verão os mais desgastantes pelo abundante número de certames e festividades que ocorrem no país.
Quanto à formação de novos músicos, a Banda de Mateus conta com uma escola, em que existem “professores para quase todos os instrumentos”, formando, assim, “vários alunos que posteriormente entram no conservatório de Vila Real com provas excelentes”.
No que respeita à conciliação das atividades profissionais com as atividades que envolvem a associação, uma vez que esta requer muitos ensaios, quer o presidente quer o seu maestro, referem que “o amor à camisola” é o principal impulsionador, transversal a todos os membros, da banda.
Aspirando atingir outros mundos e outras realidades, a Banda de Música de Mateus ambiciona novos projetos e novos desafios. Segundo o presidente Altino Alves, a aposta na formação, criando uma academia em alternativa ao conservatório, bem como a melhoria e expansão do espaço, são projetos que se encontram em cima da mesa, pois a “Banda de Mateus tem um nome, uma marca e uma reputação”.