Domingo, 19 de Janeiro de 2025
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Um desafio chamado ensino à distância

ESPECIAL ENSINO - Juntámos, na mesma sala, uma psicóloga, uma aluna e um professor. Em cima da mesa o tema em debate é o ensino à distância

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A pandemia de Covid-19 veio alterar, por completo, a vida de todos. No caso das escolas, o confinamento “atirou” alunos e professores para casa e, durante algum tempo, as aulas decorreram online.

“Se nos perguntassem, à data, se era possível, toda a gente diria que não”, começa por dizer João Silva, professor no Agrupamento de Escolas Diogo Cão e coordenador do ensino à distância, acrescentando que “foi um verdadeiro desafio”. 

A escola, com a ajuda da autarquia, conseguiu emprestar tablets e computadores “a todos os alunos que precisavam”, confessa, lembrando que “foi preciso uma grande ginástica e há situações que a maior parte das pessoas não tem noção que acontecem como por exemplo, nos dias de hoje, existirem famílias sem eletricidade em casa”.

 

“No online sinto que estamos mais atentos e que percebemos melhor os professores, mas prefiro estar na escola”

 

Carolina Sarmento

aluna 7º ano

“De que lhes valia terem o computador, se não tinham condições para tal?”, questiona. Aqui, “o Gabinete de Apoio ao Aluno teve um papel fundamental, ao estar disponível para entregar e recolher fichas sempre que necessário. Além disso, também as juntas de freguesia colaboraram connosco, ao providenciarem ligações à internet e ao receberem alunos que não tinham condições em casa”.

Ainda assim, num inquérito feito aos pais, professores e alunos, “recebemos quatro em cinco estrelas, o que nos deixa muito orgulhosos”, confessa, referindo que “apenas 2% dos pais não ficaram satisfeitos”. Questionado sobre os motivos para isso, o docente admite que “deve-se, em alguns casos, a pequenas situações que nos são alheias, como a cobertura de internet. Essa foi uma das grandes queixas dos pais, a qualidade da ligação à internet. Atribuíam a culpa à plataforma que usámos, quando não tinha nada a ver com isso”.

DIFICULDADES

“Foi um período desgastante para todos, foi preciso uma gestão emocional muito grande”, refere Helena Costa, psicóloga no mesmo agrupamento.

Um desgaste para o qual João Silva diz que “a fatura ainda está para chegar”. “Eu tenho dois filhos pequenos, de seis e 10 anos. Gerir o meu trabalho, as tarefas de casa e dar apoio aos meus filhos foi complicado. O que ajudou foi a flexibilidade do horário, mas acabava por trabalhar em horas que supostamente seriam para descansar. Nesse aspeto foi um grande desafio”.

A isto junta-se o facto de ser diretor de turma. “Querer ajudar os alunos e as famílias a resolver os problemas à distância também foi complicado, um problema que presencialmente demoraria cinco minutos acaba por demorar mais. Fazer-se entender à distância, quando temos um número significativo de famílias que não têm grandes competências digitais, dificultou a tarefa. Mas olhando para tudo, penso que foi positivo.

 

“No primeiro confinamento notámos que foi extremamente complicado para todos o facto de terem de estar fechados em casa”

 

Helena Costa

psicóloga

 

IMPACTOS

O ensino à distância tem sido, na opinião da comunidade escolar, um desafio. Questionada sobre os impactos que uma situação destas tem nos jovens, Helena Costa lembra que “no primeiro confinamento notámos que foi extremamente complicado para todos o facto de terem de estar fechados em casa. Tivemos pais e professores a pedirem-nos ajuda para falar com os alunos e tentar, de alguma forma, tranquilizá-los”. Já no segundo confinamento, “a situação deixou de ser novidade, mas claro que houve alterações emocionais”.

“Gerir o meu trabalho, as tarefas de casa e dar apoio aos meus filhos foi complicado e desgastante”

 

João Silva

professor

Eu penso que toda esta situação os fez crescer e perceber que a escola lhes faz falta. Eles próprios diziam que sentiam falta dos professores e de poderem brincar com os amigos. Penso que eles perceberam que mais do que aprender a matéria, a escola permite-lhes adquirir valores importantíssimos para a vida, como a amizade e a partilha”, salienta.

E foi precisamente disso que falou Carolina Sarmento. Está no sétimo ano e tem o sonho de ser médica veterinária. “Estar em casa fez-nos perceber quem somos, quem nos faz falta e que precisamos das pessoas e de estar com os nossos amigos. A escola não nos dá só conhecimento, mas ajuda-nos a crescer enquanto pessoas. Se não fosse a escola, eu não tinha tantos amigos”.

Carolina não esconde preferir o ensino presencial, mas admite que “no online sinto que estamos mais atentos e que percebemos melhor os professores, porque não estamos juntos, nem a falar e os professores pedem para só ligarmos o microfone quando é preciso”. Ainda assim, “na escola conseguimos tirar mais dúvidas e manter as rotinas. Eu prefiro o ensino presencial e até estou um bocadinho farta de computadores”.

“Esta questão das rotinas é bastante importante, até porque quando estamos em casa tendemos a ficar mais desleixados, preguiçosos, dormimos mais e até as refeições são afetadas”, admite Helena Costa. A psicóloga conclui, lembrando que “o facto de se passar muitas horas em frente ao computador também não é benéfico”.


900 milhões de euros para recuperar aprendizagens

O ministro da Educação, Tiago Brandão Rodrigues, sempre se mostrou a favor do ensino presencial. O governante não esconde que fez de tudo para manter as escolas abertas e receia que muitos alunos possam perder vários anos letivos por causa do ensino à distância.
A pensar nisso, está a ser preparado um Plano de Recuperação de Aprendizagens, com o Governo a investir cerca de 900 milhões de euros nos próximos dois anos letivos. O Ministério da Educação estabeleceu um conjunto de objetivos que passa, além da recuperação das aprendizagens e das competências mais afetadas durante o ensino à distância, a diversificação das estratégias de ensino e o investimento no bem-estar social e emocional.
Segundo o ministro da Educação, as grandes prioridades serão “ensinar e aprender”, “apoiar as comunidades educativas” e “conhecer e avaliar”, sempre de olhos postos no sucesso, na inclusão e na cidadania.
“Este é um plano que está centrado na aprendizagem, no desenvolvimento de competências de forma integrada e plural, procurando medidas e disponibilizando recursos”, explicou Tiago Brandão Rodrigues.
“O ensino à distância não substitui completamente o presencial e não falo unicamente nas qualificações ou nas competências. Falo nas questões de sociabilização, de saúde mental, de atividade física”, conclui.
Assim sendo, no âmbito do Plano 21|23 Escola+, o Governo prevê a abertura de mais 50 salas de pré-escolar para garantir o acesso generalizado de crianças a partir dos três anos à educação da infância, o reforço de professores nas escolas (3.300 para apoio tutorial específico), mais créditos horários e a duplicação do número de horas que são dados às equipas multidisciplinares que trabalham com crianças com necessidades educativas especiais.
Pensado para dois anos letivos, o Plano de Recuperação das Aprendizagens vai custar 900 milhões de euros, sendo que 140 milhões serão para recursos humanos em 2021/22.

Tiago Brandão Rodrigues Ministro da Educação

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